Vigília - Vinícius de Moraes

Eu às vezes acordo e olho a noite estrelada
E sofro doidamente.
A lágrima que brilha nos meus olhos
Possui por um segundo a estrela que brilha no céu.
Eu sofro no silêncio
Olhando a noite que dorme iluminada
Pavorosamente acordado à dor e ao silêncio
Pavorosamente acordado!
Tudo em mim sofre.
Ao peito opresso não basta o ar embalsamado da noite
Ao coração esmagado não basta a lágrima triste que desce,
E ao espírito aturdido não basta a consolação do sofrimento.
Há qualquer coisa fora de mim, não sei, no vago
Como que uma presença indefinida
Que eu sinto mas não tenho.

Meu sofrimento é o maior de todos os sentimentos
Porque ele não precisou a visão que flutua
E não a precisará jamais.
A dor estará em mim e eu estarei na dor
Em todas as minhas vigílias...
Eu sofrerei até o último dia
Porque será meu último dia o último dia da minha mocidade.

Um comentário:

  1. Triste vida desse sofredor, deve ser sufocante a ideia de acordar e ao olhar as estrelas se ver mergulhado em um sofrimento gigantesco, o pior de tudo,é que não sabe pelo que sofre. Talvez seja falta de uma pessoa, mas como se ele não a conhece? Esse é o barato dos poemas, por breves momentos agente encarna o eu-lírico e sentimos o que ele sente. Mais tristes que esse personagen são aquelas pessoas que não conhecem o quão é maravilhoso a poesia. Penso eu que de algum jeito doe pra elas interpretarem os poemas. No meu caso, quando acho um texto poético interessante, faço uma interpretaçao diferente, pego a ideia central e faço um outro poema com essa mesma essência, dando vida a minha obra de arte pessoal. Então encerro minha presença por aqui, deixando pra senhora um feliz dias das mães. Até mais.

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