Quarto de Pensão - Marina Colasanti


Sou pensionista da vida.
Na mesma tábua em que durmo
Escrevo meu trabalho
E ela farfalha, embora já sem folhas,
Só da lembrança de ter sido tronco.
Tenho uma pia no canto,
Que goteja
E é meu lago, meu rio, meu
Fundo mar.
Tenho um rijo cabide
À cabeceira
Para dependurar a pele
A cada noite.
Me dão café com pão, e às vezes
Algum vinho.
Dizem que só paguei meia pensão.
Há uma fome indistinta que me habita
Enquanto o medo
Com felpudos passos
Percorre o labirinto das entranhas.
Mas agradeço essas quatro paredes
E que me tenham dado uma janela.
Pois sei que a qualquer hora
Sem possibilidade de recurso
E talvez mesmo sem aviso prévio
Serei intimada
A devolver o quarto.

2 comentários:

  1. Olá!

    Navegando por aí, achei teu blog e adorei!
    Já virei fã e seguidora, viu?

    Abraços

    Lia

    Blog Reticências...
    http://liaks25.blogspot.com/

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  2. Que bom que você gostou, Lia!
    Obrigada e seja bem – vinda.
    Abraço:)

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