Viagem Antiga - Alcides Villaça

Havia vezes eu me via
como um menino não se vê.
A água na nuvem se adivinha,
a sede vem antes de sua vez.

Havia vezes eu me renascia
sem nunca ter saído além de mim:
emprestava-me espelhos e outras vias
de ver tocar sentir o fundo o si.

Era um segundo inteiro ou todo um dia
quando lançava o olhar além de mim
e me via em tudo o que não via?
Que trem cortava o tempo desse abril?

Em que viagem eu era o meu caminho?
Às vezes os meninos pousam olhos
no fim das paralelas, e descansam
o corpo de seus pesos e medidas.

Se nesta noite fixo a luz da esquina
e torno lento o sangue em seu caminho,
nem sombra apanho da viagem antiga
que, quando eu não queria, me fazia.

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