Ferido de amor e morte - Manoel de Barros


Ferido de amor e morte
Ando à procura de paz.
Cadê teu rosto de brumas,
Para meu sonho desabado?

Meus pés de urzes e barcos,
Magoei-os pelos caminhos.
Soprem ventos do oceano
Sobre as flores e os espinhos...

Casa entre grades e rosas
Com portão de ferro arqueado.
- Sonhe o menino perdido
Com seus ombros desabados.

4 comentários:

  1. Há sempre um tempo para cuidar das feridas...

    Beijo :)

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  2. Não conhecia este lado de nosso maravilhoso poeta!!! Obrigada por mostrá-lo...abraços

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    1. Estou relendo a obra dele e prestando atenção em dois livros antigos, o Face Imóvel dos anos 40, e o Poesias, dos anos 50, que mostram um outro lado desse incomparável poeta. Mesmo nesses livros considerados mais fracos ele dá de mil em muito poetastro de encomenda (daqueles que forçam as rimas, e esquecem o fluxo interior, etc.). Já chamaram esses dois livros de "exercícios de luxo" para o que viria depois, mas quanto mais volto a eles, menos acho que são exercícios, já mostram um poeta autêntico, lírico, pessoal, verdadeiro, talvez um lado que ele mesmo abandonou. "Poesias", dos anos 50, funciona como uma coletânea antiga desse lado dele, ao qual deve ser juntado "Face Imóvel", curiosamente, os dois únicos que não saíram reedições individuais, apenas na poesia completa (ele eliminou metade de Face Imóvel na obra completa, havia uma parte mal resolvida e "indecisa" como ele escreveu na dedicatória original aos seus pais. Mas são livros a que volto sempre, e procuro ressonâncias deles em outros poetas, e apesar de tanta artificialidade, às vezes há a poesia autêntica e despretensiosa, mas verdadeira, e esses livros são uma pista e um modelo. Pena que o poeta não voltou mais, ou raras vezes, ao estilo desses dois livros de seus primeiros tempos. (E pena que eu não xeroquei, não pude xerocar a metade eliminada de Face Imóvel quando consultei na Biblioteca Mário de Andrade, nem sei se ainda está lá, é uma raridade e tanto, dedicada ao crítico Sérgio Milliet, e doado por este). Me alonguei, mas acho que dei uma dica importante a tantos quanto se interessarem por essas coisas verdadeiras da autêntica poesia, e quando ela não é feita de encomenda ou causar efeitos que impressionem acadêmicos.

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  3. Manoel de Barros é sempre um presente, uma sinfonia.
    Agradeço pelas informações, Carlos, e deixo aqui a preciosa dica.

    Abraço :)

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