Mostrando postagens com marcador Aníbal Machado. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Aníbal Machado. Mostrar todas as postagens

A casa rouca - Aníbal Machado

Ficara o galo, sobrevivência da ruína.
Rouco o seu canto.
Canto que não parecia mais de galo,
senão a própria voz da casa abandonada.
Casa rachada ao sol, aluindo-se ao vento de chuva.
Não mais agora figuras humanas entrando;
apenas lagartixas e morcegos para recepção às sombras.
Casa rouca submersa no matagal, teu galo ficou.
E seu canto perdeu o timbre de sol,
já não inaugura os dias.
E se fez adequado aos estragos do reboco,
à podridão das esquadrias – 
última secreção de pareces gemidas.
Galo rouco. Casa rouca.

Iniciativas - Aníbal Machado



Faça o que lhe digo.
Solte primeiro uma borboleta.
Se não amanhecer depressa,
solte outras de cores diferentes.
De vez em quando, faça partir um barco.
Veja aonde vai.
Se for difícil,
suprima o mar e lance uma planície.
Mande um esboço de rochedo,
o resto de uma floresta.

Atire um planisfério. Um zodíaco.
Uma fachada de igreja.
E os livros fundamentais.
Sirva-se do vento, se achar difícil.

Mande uma manhã de sol, na íntegra.
Faça subir a caixa de música,
com o barulho dos canaviais
e o apito da locomotiva.
Veja se consegue o mapa dos caminhos.