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Soneto do desmantelo azul - Carlos Pena Filho

Então, pintei de azul os meus sapatos
 por não poder de azul pintar as ruas,
 depois, vesti meus gestos insensatos
 e colori as minhas mãos e as tuas,

 Para extinguir em nós o azul ausente
 e aprisionar no azul as coisas gratas,
 enfim, nós derramamos simplesmente
 azul sobre os vestidos e as gravatas.

 E afogados em nós, nem nos lembramos
 que no excesso que havia em nosso espaço
 pudesse haver de azul também cansaço.

 E perdidos de azul nos contemplamos
 e vimos que entre nós nascia um sul
 vertiginosamente azul. Azul.


Para fazer um soneto - Carlos Pena Filho


Tome um pouco de azul, se a tarde é clara,
E espere um instante ocasional
Neste curto intervalo Deus prepara
E lhe oferta a palavra inicial

 Ai, adote uma atitude avara
Se você preferir a cor local
Não use mais que o sol da sua cara
E um pedaço de fundo de quintal

 Se não procure o cinza e esta vagueza
Das lembranças da infância, e não se apresse
Antes, deixe levá-lo a correnteza

 Mas ao chegar ao ponto em que se tece
Dentro da escuridão a vã certeza
Ponha tudo de lado e então comece.


Retrato Campestre - Carlos Pena Filho



Havia na planície um passarinho,
Um pé de milho e uma mulher sentada.
E era só. Nenhum deles tinha nada
com o homem deitado no caminho.

O vento veio e pôs em desalinho
a cabeleira da mulher sentada
e despertou o homem lá na estrada
e fez canto nascer no passarinho.

O homem levantou-se e veio, olhando
a cabeleira da mulher voando
na calma da planície desolada.

Mas logo regressou ao seu caminho
deixando atrás um quieto passarinho,
um pé de milho e uma mulher sentada.