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O evento terno - Cyro de Mattos



Sentido não haveria
Do aroma sem o canto.
A aderência perfeita
Toca o mistério,
A natureza se impõe
Na luz deste céu sonoro.
Na nervura da pétala,
Tremor translúcido,
O pássaro tece e acontece.




Tropas - Cyro de Mattos


Vinha o vento dizer
daquele silvo,
perene de guizo
a manhã de música.
O ouro dos cascos
em chão de cascalho
aqui desta curva.
Como flor na poeira
com o amante festivo
das ancas do tempo
por que não retornam?


Lugar - Cyro de Mattos

Ainda que seja
um grão no deserto
o poema é meu lugar
onde tudo arrisco.
Irriga minhas veias
como a chuva à terra
em suas mil línguas.
Antigo, bem antigo,
me anuncia no vale,
me consuma real,
viajante cativo
da solidão solidária.
Sem esse jeito
de ser flor e vento,
sonho e música,
uma coisa só amor,
não há o espanto,
a lágrima, o beijo,
o riso, o epitáfio,
não há o sentido.

Sagamar - Cyro de Mattos



Mar ave ilha
dessa vaga na milha

vento lavrador
nessa língua crespa

poreja o sal
nessa mão azul

um sol que ama
em cada verde

veia de saga
ardor do signo

viga de velejar
mastro que te veste

ao mar de silêncio
dardo dúbio do vento



Parábola - Cyro de Mattos

Prometeu soltar os pássaros,
Não extrair a lágrima da árvore,
Repartir os frutos com os outros,
Deixar a água limpa,
Não envenenar o céu.

No último gesto
Pensou que era morto
E viveu.

Oferenda - Cyro de Mattos

Abre-te terra,
Reinventa-te em rosa,
Perfuma teu perfume
Com esse vinho sempiterno,
Última oferenda de teu filho
Que foi ave, mão e árvore,
Agora flor sem vento
Na poeira do vento.

Viola - Cyro de Mattos

Um povo e sua flor
Dentro de mim
Com vozes, cores, rios.
Um povo e sua flor
Com ventos, aves, penas.
Trama minha sina
Viola do amor
No visgo da terra.

Um povo e sua flor,
Emoção feita amêndoa
Na seiva do mistério,
Deixando-me acontecer
Alma, força e vida.

Meu jardim - Cyro de Mattos

Ontem o girassol
brilhou de sol a sol.
Hoje a borboleta
brincou com a violeta
e a operosa abelha
beijou a rosa vermelha.

Amanhã a magnólia
vai contar a história
do Reizim Valentim
e seu cavalo Bandolim.
Coisas coloridas assim
acontecem em meu jardim.

O Menino e o Mar - Cyro de Mattos

Era a primeira vez
Que tinha ido ver o mar.
Todo alegre, de calção,
Peito nu e pé no chão.

Quando viu tanta água
Fazendo barulho
Sem parar, disse:

- Pai, me dê sua mão.

Gitano Garcia Lorca

A pata na pétala
de hesitante tremor.
O ódio e a morte
a ferver das funduras
nas bodas da fera.
O amor diante da mira,
nos braços para o ar.
Toda a imagem pura
da manhã desfaz-se.
De esperança tua música,
matar-te não conseguiram.
Tu és o que ressurge
nos galos da aurora,
na ternura dos lírios.

Garcia Lorca tua guitarra
feita de flor no coração
a me prender na lágrima,
a me desprender nos ermos...

Poema todo verde - Cyro de Mattos

O verde de todas as chuvas
escorrendo em chão de infância
amado nas flores ideais.
O verso de todos os ventos
brincando na várzea intensa
amanho de eterna paz.
O verde de todos os pássaros
cantando na irmandade dos ares
aragem de rações iguais.
O verde de todos os sóis
iluminando geografias impossíveis,
armadura de colheitas matinais.

Carregado de verde nas nuvens
molhar o mundo fero e solitário
pelos quatro cantos cardeais.