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FACES - Glória de Sant'Anna


com as asas de um anjo de Van Eyck
Fugi para lá do horizonte

onde perdi a face

esta que agora trago e apresento
é o castigo
da luminosidade:

restituir as asas
                                                  ao anjo de  Van Eyck


Culpa do Vento - Glória de Sant'Anna

o vento é brisa
e corre leve
pelo rendado
das casuarinas

corre de manso
pelo verde liso
-asa de cântico
de um outro mar

e pela folhagem
e entre as aves
mergulham peixes
de oiro e cristal

(culpa do vento
a segredar
vozes de espuma
e sons do mar)



Motivo - Glória de Sant'Anna

Tudo o que vês
não é nada:
ou uma nuvem
ou uma palavra.

Tudo o que ouves
nada mais é:
o vento é lesto
e corre breve.

O que não vês
nem sabes mesmo
é que importava
se houvesse tempo.


Batuque ao longe - Glória de Sant'Anna

Do fundo da noite
a mesma toada batendo.
(É noite de medo?)

A mesma toada por sobre os telhados,
trazendo mensagens que tombam desfeitas.

(Coladas aos vidros
há vozes de greda).

A mesma toada roçando na porta,
batendo.

Por sobre as ramadas, calcando o capim,
em volta da serra, caindo do espaço,
em ecos de outrora por todos os lados.



Poema - Glória de Sant'Anna

  Esta última lágrima
era de oiro

Aqui estou
como uma pétala solta

O vento me levará
ao último azul

E serei horizonte



Livraria - Glória de Sant'Anna



vozes me chamam
passo a soleira
entro pelo meio
das prateleiras
onde as lombadas
fecham secretas
folhas marcadas
pelos recados
esperando olhos
de mentes rápidas
que se detenham
nas letras firmes
pulando leves
pelas palavras

(e de repente sinto-me envolta
no calor doce das florestas
desarvoradas por ventos de aço
de rumos vários de som diverso)


ASAS - Glória de Sant'Anna

 dentro da ramaria
um passarito
por mim chama

(não sei como se chama)

dentro da ramaria
se derrama
num intenso trinado

e por mim chama
para voar

não sabe o probrezito
cantando na ramaria

que as minhas asas
já foram arrancadas
por densos temporais
de mares de palavras
e de lágrimas

não sabe o pobrezito

e me chama
e se derrama
no intenso trinado
e canta canta

e se desfaz
para a noite que avança


Outro dia - Glória de Sant'Anna


Nada se move
na quietude que desce.

As hastes
têm atitudes de pedras esculpidas.
E os ângulos
são mais breves: mais mansos
nas paredes erguidas.

Tudo é sereno e quase vago
e parece fundir-se
na minha própria lassidão.

Mas tudo só parece:
o dia hoje caminha
e leva-me de rastos pela mão.

Poema da solidão - Glória de Sant'Anna



Serei tão secreta
como o tecido da água

e tão leve

e tão através de mim deixando passar
toda a paisagem

e todo o alheio pecado
do gesto, da presença ou da palavra

que logo que a tua mão me prenda
me não acharás:

serei de água.

Poema da solidão do vento - Glória de Sant'Anna

 É o vento.

O vento vivo e claro
que percorre e não prende
o corpo nu das árvores.

É o vento.

O vento que se inclina
junto às portas fechadas
e tateia as vidraças
com longos dedos de ágata.

É o vento.

O vento que se humilha
- e partirá tão só
como à chegada.