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Penumbra - Homero Frei

Minha cabeça afaga o meu cansaço
Como uma luz no coração da sombra;
Corpo da sombra, coração da terra,
Rima do verso branco que sou eu.

Qual uma rosa que fizesse falta
Às ruas murchas de não serem rios,
Embalo a sombra como um berço estéril,
Antecipando o último berço imóvel.

Felizmente ainda venta no destino.
Ainda o perfume comparece às flores.
Sim! Afinal, a vida é uma verdade

(Por que falei tão alto, se acredito?)!
Meu cansaço fecunda a minha sombra –
A morte amanheceu, quase nasci!


Passo a Passo - Homero Frei

Os passos são andaimes interiores
Com que construo a habitação da espera.
Chovem horas em volta até que um dia
Alguém descobre infiltrações no tempo.

Tudo está só. Tudo são passos sós;
Eles que vivem soterrando as asas.
Por isso os dias doem por entre as rosas
Que afasto em busca de uma dor sem flores.

Depois (pobre depois – nome de um nome;
Coisa que é coisa porque as coisas partem
Envelhecendo a infância do futuro)...

Os passos são fraturas no meu voo;
Oprimidos retalhos do infinito;
Portos viajando no porão de um barco.





O lago e a rosa - Homero Frei

Só minha voz dentro do lago cresce
Como um caule de raiva. No alto a rosa,
Indiferente às aves diluídas
E ao sonho seco do tumor das ilhas.

No lago a dúvida é uma estrada (ou era?).
E os barcos têm perdido tantos lemes,
Que só retornam quando o vento vela
O cadáver solícito dos rumos.

Ao céu a rosa é fria como um grito
Diariamente antigo. O lago dorme
Longe das horas de sessenta medos.

E enquanto a dor não se transforma em rosa,
Só minha voz das águas mortas crava
Sobre a carne da luz beijos de pedra.




Homero Frei


Entre uma voz que sonha e outra que sabe
O poema é apenas parte do silêncio
Que entra nos homens para que eles gritem
Que sai do poeta para que ele nasça
Ao fim do ramo das palavras mortas -
Terra, semente, sol e rosa!