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Ele sabe - Humberto Ak'abal


O vento não pode
interromper um sonho.

A noite se ilumina
para o pensamento.

Eu moro aqui
mas penso acolá.

E meu povo sabe disso.


A sombra - Humberto Ak'ab'al


Ele dançava
como nunca havia dançado,
e seus olhos eram para ela.

— Com quem dança ele?
Perguntou uma voz.

— Com uma sombra,
respondeu o vento.


A corda do silêncio - Humberto Ak'abal


Deste lado estava o espanto
e nós do outro lado.
A corda do silêncio
estava tão retesada
que de um momento a outro
romperia em um grito.

Era de noite
e a vela já se havia consumido.

Não sei de onde buscamos forças
para não soltar o grito,
o espanto se deu por vencido:
afrouxou a corda
e desapareceu!

A Cada Um - Humberto Ak'abal


Amanhece.

O Sol come a neblina
e começa a pintar
caminhos,
árvores,
casinhas,
animais,
pessoas…

E a cada um
lhe põe sombra.


Estalo - Humberto Ak'abal



Estalou teu silêncio
 e despertaste o louco
que dormia na minha cabeça.

Comecei a procurar-te
por esses caminhos apagados.

Dizem-me que te tornaste flor,
dizem-me que te tornaste mel.

Por culpa tua 
sinto que sou abelha.

Hoy - Humberto Ak'abal


Hoy amanecí fuera de mí
y salí a buscarme.

Recorrí caminos y veredas
hasta que me hallé

sentado sobre un borde de musgo
al pie de una cipresalada,
platicando con la neblina
y tratando de olvidar
lo que no puedo.

A mis pies,
hojas, sólo hojas.

E o caminho? - Humberto Ak'abal


Atrás de nós ficava longe o amanhecer
e adiante a tarde já se havia ido,
a noite era uma montanha com estrelas.

Assim que havíamos alcançado o outro lado
quando às nossas costas
o vento gritou de medo
e o caminho desapareceu.

Caminho ao contrário - Humberto Ak'abal


De vez em quando
caminho ao contrário:
é a minha maneira de lembrar.

Se caminhasse só para a frente,
poderia contar-te
como é o esquecimento.


A chuva - Humberto Ak'aba


Ontem encontrei uma nuvem chorando.

Contou-me que havia levado sua água
à cidade
e se perdera.

Procurou paisagens,
e a cidade as havia engolido.

Descalça, triste e sozinha,
regressou.

Voltou a chover no campo;
xaras e sanates
festejaram.

E cantaram os sapos.


Humberto Ak'abal

Nas vozes
das velhas árvores
reconheço as dos meus ancestrais.

Sentinelas de séculos,
seu sonho está nas raízes.

Na poça - Humberto Ak'abal

Na poça
havia muitas estrelas;
pedi a meu pai
que as tirasse dali.

Ele removeu a água
gota a gota
e pôs as estrelas
nas minhas mãos

Ao amanhecer
eu queria saber se era verdade
que ele as havia tirado da poça.

E era verdade, na poça
só restava o céu.

A música do poema - Humberto Ak'abal,

A poesia não toca no rádio ou nas boates
porque a música do poema não é para dançar
e no delírio banal da nação a poesia não elege modas
porque a música do poema não é para dançar
ninguém rebola um poema na televisão
porque a música do poema não é para dançar
mas a música do poema é irresistível
e há séculos os loucos e os poetas
a dançam sem parar.

APRENDIZ - Humberto Ak'abal

Nestes ímpetos
me surge a vontade de escrever;
não porque saiba, senão
porque fazendo-o e desfazendo-o
é como aprendo esse ofício e,
por fim,
algo vai ficando em mim.

As encostas,
os morros,
os precipícios,
os velhos povoados
têm segredos encantadores,
daí o meu desejo de levá-los a passear
em folhas de papel.

Esse belo ofício tenho de tratá-lo
como supertarefa, ainda que me doa,
porque não conto com o tempo de que gostaria.
(Devo trabalhar em outra coisa para sobreviver.)

Meus versos têm a umidade da chuva,
ou as lágrimas do sereno, e não podem
ser senão assim, porque foram trazidos da montanha.