Mostrando postagens com marcador Julio Cortázar. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Julio Cortázar. Mostrar todas as postagens

Para Cris - Julio Cortázar


Agora escrevo pássaros.
Não os vejo chegar, não escolho,
de repente estão aí,
um bando de palavras
a pousar
uma
por
uma
nos arames da página,
entre chilreios e bicadas,
chuva de asas,
e eu sem pão para dar,
tão somente deixo-os vir.
Talvez seja isto uma árvore,
ou quem sabe, o amor.


Poema - Julio Cortázar

Amo-te por sobrancelha, por cabelo,
debato-te emcorredores branquíssimos
onde se jogam as fontes de luz,
discuto-te a cada nome,
arranco-te com delicadeza de cicatriz.
Vou-te pondo no cabelo
cinzas de relâmpago
e fitas que dormiam à chuva.

Não quero que tenhas uma forma,
que sejas precisamente o que vem atrás da tua mão,
porque a água, considera a água e os leões
quando se dissolvem no açúcar da fábula, e os gestos,
essa arquitectura do nada,
acendendo as lâmpadas a meio do encontro.

Todo amanhã é o quadro onde te invento e te desenho,
disposto a te apagar, assim não és,
muito menos com esse cabelo liso, esse sorriso.
Busco tua soma, a borda da taça
onde o vinho é também a lua e o espelho,
busco essa linha que faz o homem tremer
numa galeria de museu.
Além do mais te amo, e faz tempo e frio.


O Sonho - Julio Cortázar

 
O sonho, essa neve doce
que beija o rosto, rói até que encontre
debaixo, suspenso por fios musicais,
o outro, que desperta.


À esperança - Julio Cortázar

Estica tuas perninhas enluvadas, esperança hirta.
Acendo um fósforo: esquenta-te. É suficiente para ti.
Depois contemplaremos nossos rostos
e pensaremos: como
mudou.

Acreditávamos
um no outro. Vê, não se deve.
Estica tuas maõzinhas frias, esperança.

Fazer o quê, o fósforo se apaga.