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Soneto V - Paulo Bomfim


Giram os girassóis no muro antigo
E há um rubor de pitangas no quintal,
Um realejo toca um toque amigo
E a tarde agora é sino de cristal.
Sino chamando tranças e cirandas,
Risadas e pregões fora de moda,
E nuvens navegando a velas pandas,
E brisa a desfolhar canções de roda.
Ah tempos habitantes de saudade,
Horas que avós fiaram suavemente,
Vida que esconde-esconde uma cidade,
Surgindo da neblina de repente!
Caminham pela tarde os assombrados,
Esses velhos meninos naufragados!

Soneto I - Venho de longe - Paulo Bomfim



Venho de longe, trago o pensamento
Banhado em velhos sais e maresias;
Arrasto velas rotas pelo vento
E mastros carregados de agonia.

Provenho desses mares esquecidos
Nos roteiros de há muito abandonados
E trago na retina diluídos
Os misteriosos portos não tocados.

Retenho dentro da alma, preso à quilha
Todo um mar de sargaços e de vozes,
E ainda procuro no horizonte a ilha.

Onde sonham morrer os albatrozes...
Venho de longe a contornar a esmo,
O cabo das tormentas de mim mesmo.

O Ar - Paulo Bomfim



Em nossa transparência
Os muros da carne.

Em nossa angústia
O vento rebelde.

Em nossa nuvem
O voo do pássaro.

Em nossa fonte
A água invisível.

Em nossa árvore
A serpente do nada.

Somos o ar
Na torre das palavras.