HAIKAI - Chiyo-jo

Borboleta!
O que sonhas, assim,
mexendo suas asas?
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Eu sou essa pessoa - Cecília Meireles

Eu sou essa pessoa a quem o vento chama,
a que não se recusa a esse final convite,
em máquinas de adeus, sem tentação de volta.
Todo horizonte é um vasto sopro de incerteza:
Eu sou essa pessoa a quem o vento leva:
já de horizontes libertada, mas sozinha.
Se a Beleza sonhada é maior que a vivente,
dizei-me: não quereis ou não sabeis ser sonho?
Eu sou essa pessoa a quem o vento rasga.
Pelos mundos do vento em meus cílios guardadas
vão as medidas que separam os abraços.
Eu sou essa pessoa a quem o vento ensina:
- Agora és livre, se ainda recordas.
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Cecília Meireles
Mar Português - Fernando Pessoa

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
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Fernando Pessoa
Sob o céu todo estrelado - Manuel Bandeira
As estrelas, no céu, brilhavam, Divinamente distantes.
Vinha da caniçada o aroma
Amolescente dos jasmins.
E havia também num canteiro perto,
Rosas que cheiravam a jambo.
Um vaga-lume abateu sobre as hortênsias
E ali ficou luzindo misteriosamente.
À parte as águas de um córrego,
Cantavam a eterna história sem começo nem fim.
Havia uma paz em tudo isso...
Era que de resto o que dizia lá dentro
O meigo adágio de Haydn.
Tudo isso era tão tranqüilo... tão simples...
E deverias dizer que foi
O teu momento mais feliz.
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Manuel Bandeira
HAIKAI - Marba Furtado

A cada minuto
o mundo muda de cor
— é fim de tarde
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Poema - Manoel de barros

A poesia está guardada nas palavras
- é tudo o que eu sei.
Meu fado é de não entender quase tudo.
Sobre o nada eu tenho profundidades.
Não cultivo conexões com o real.
Para mim poderoso não é aquele
que descobre ouro.
Poderoso para mim é aquele que
descobre as insignificâncias: do mundo e as nossas.
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.
Fiquei emocionado e chorei.
Sou fraco para elogios.
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Manoel de Barros
Rio na Sombra - Cecília Meireles
Somfrio.
Rio
sombrio.
O longo som
do rio
frio.
O frio
bom
do longo rio.
Tão longe,
tão bom,
tão frio,
o claro som
do rio
sombrio!
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Cecília Meireles
Entre o sono e o sonho - Fernando Pessoa
Entre o sono e sonho, Entre mim e o que em mim
É o quem eu me suponho
Corre um rio sem fim.
Passou por outras margens,
Diversas mais além,
Naquelas várias viagens
Que todo o rio tem.
Chegou onde hoje habito
A casa que hoje sou.
Passa, se eu me medito;
Se desperto, passou.
E quem me sinto e morre
No que me liga a mim
Dorme onde o rio corre —
Esse rio sem fim.
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Fernando Pessoa
Canção sonolenta - Afonso Estebanez

Correm lentos noite e rio
nos atalhos entre o vento
aquecendo a mão do frio
nos retalhos do relento...
A brisa vem-me acalmar
de antigo ressentimento
e o vento me vem cantar
de tanto contentamento.
Na alameda à luz da lua
sob o céu além do tempo
nas poças d’água da rua
entre luzes me contemplo.
Futuro não tem passado
e o presente não tem fim.
Há em mim um outro lado
de um outro lado de mim...
Jaz-me a alma repousada
e uma flor calada em mim
como saudade encostada
no canteiro de um jardim...
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Afonso Estebanez
Intimidade - José Saramago

No coração da mina mais secreta,
No interior do fruto mais distante,
Na vibração da nota mais discreta,
No búzio mais convolto e ressoante,
Na camada mais densa da pintura,
Na veia que no corpo mais nos sonde,
Na palavra que diga mais brandura,
Na raiz que mais desce, mais esconde,
No silêncio mais fundo desta pausa,
Em que a vida se fez perenidade,
Procuro a tua mão, decifro a causa
De querer e não crer, final, intimidade.
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José Saramago
Sensibilidade - Helena Kolody

Meu coração,
É um quarto de espelhos,
Que reflete e multiplica,
Infinitamente,
Uma impressão.
É como o eco
Dos longos corredores desertos,
Que repete e amplifica,
Misteriosamente,
Uma palavra.
É como um frasco de perfume raro
Que guardou,
Para sempre,
Um leve aroma da essência que encerrou.
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Helena Kolody
A música - Gibran Kahlil Gibran
A Música é a linguagem dos espíritos. Sua melodia é como uma brisa saltitante
que faz nossas cordas estremecerem de amor.
Quando os dedos suaves da música
tocam à porta de nossos sentimentos,
acordam lembranças que há muito jaziam escondidas
nas profundezas do Passado.
A alma da Música nasce do espírito
e sua mensagem brota do Coração.
Quando Deus criou o Homem,
deu-lhe a Música como uma linguagem diferente de todas as outras.
Mesmo em seu primarismo, o Homem primitivo curvou-se à glória da música;
ela envolveu os corações dos reis e os elevou além de seus tronos.

Nossas almas são como flores tenras à mercê dos ventos do Destino.
Elas tremulam à brisa da manhã
e curvam as cabeças sob o orvalho cadente do céu.
A canção dos pássaros desperta o Homem de sua insensibilidade.
Quando os pássaros cantam,
estarão chamando as flores nos campos,
ou estão falando às árvores,
ou apenas fazem eco ao murmúrio dos riachos?
Pois o Homem, mesmo com seus conhecimentos,
não consegue saber o que canta o pássaro,
nem o que murmura o riacho,
nem o que sussurram as ondas
quando tocam as praias vagarosa e suavemente.
Mesmo com sua percepção, o homem não pode entender
o que diz a chuva quando cai sobre as folhas das árvores,
ou quando bate devagarinho nos vidros das janelas.
Ele não pode saber o que a brisa segreda às flores nos campos.
Mas o coração do homem pode pressentir e entender
o significado dessas melodias que tocam seus sentidos.
A Sabedoria Eterna sempre lhe fala numa linguagem misteriosa;
a Alma e a Natureza conversam entre si,
enquanto o Homem permanece mudo e confuso.
Mas o Homem já não chorou com esses sons?
E suas lágrimas não são, porventura,
uma eloqüente demonstração? Divina Música!
Filha da Alma e do Amor Cálice da amargura e do Amor
Sonho do coração humano,
fruto da tristeza
Flor da alegria,
fragrância e desabrochar dos sentimentos
Linguagem dos amantes,
confidenciadora de segredos
Mãe das lágrimas do amor oculto
Inspiradora de poetas, de compositores
e dos grandes realizadores
Unidade de pensamento dentro dos fragmentos
das palavras
Criadora do amor que se origina da beleza
Vinho do coração que exulta num mundo de sonhos
Encorajadora dos guerreiros,
fortalecedora das almas
Oceano de perdão e mar de ternura.
Ó música!
Em tuas profundezas
depositamos nossos corações e almas
Tu nos ensinaste a ver com os ouvidos
E a ouvir com os corações.
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Gibran Kahlil Gibran
Astrologia - Mário Quintana
Minha estrela não é a de Belém:A que, parada, aguarda o peregrino.
Sem importar-se com qualquer destino
A minha estrela vai seguindo além...
- Meu Deus, o que é que esse menino tem?
já suspeitavam desde eu pequenino.
O que eu tenho? É uma estrela em desatino...
E nos desentendemos muito bem!
E quando tudo parecia a esmo
E nesses descaminhos me perdia
Encontrei muitas vezes a mim mesmo...
Eu temo é uma traição do instinto
Que me liberte, por acaso, um dia
Deste velho e encantado Labirinto.
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Mário Quintana
Tempo - Miguel Torga
Tempo — definição da angústia. Pudesse ao menos eu agrilhoar-te
Ao coração pulsátil dum poema!
Era o devir eterno em harmonia.
Mas foges das vogais, como a frescura
Da tinta com que escrevo.
Fica apenas a tua negra sombra:
— O passado,
Amargura maior, fotografada.
Tempo...
E não haver nada,
Ninguém,
Uma alma penada
Que estrangule a ampulheta duma vez!
Que realize o crime e a perfeição
De cortar aquele fio movediço
De areia
Que nenhum tecelão
É capaz de tecer na sua teia!
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Miguel Torga
Os pescadores e suas filhas - Cecília Meireles
Os pescadores dormiamcansados, ao sol, nos barcos.
As filhinhas dos pescadores
brincavam na praça, de mãos dadas.
As filhinhas dos pescadores
cantavam cantigas de sol e de água.
Os pescadores sonhavam
com seus barcos carregados.
Os pescadores dormiam
cansados de seu trabalho.
As filhinhas dos pescadores
falavam de beijos e abraços.
Em sonho, os pescadores sorriam.
As meninas cantavam tão alto,
que até no sonho dos pescadoresboiavam as suas palavras.
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