A Rua das Rimas - Guilherme de Almeida


A rua que eu imagino, desde menino,
para o meu destino pequenino
é uma rua de poeta, reta, quieta, discreta,
direita, estreita, bem feita, perfeita,
com pregões matinais de jornais,aventais nos portais,
animais e varais nos quintais;
e acácias paralelas,todas elas belas,
singelas, amarelas, douradas, descabeladas,
debruçadas como namoradas para as calçadas;


e um passo, de espaço a espaço,
no mormaço de aço baço e lasso;
e algum piano provinciano, quotidiano, desumano,
mas brando e brando, soltando, de vez em quando,
na luz rara de opala
de uma sala uma escala clara que embala;


e, no ar de uma tarde que arde,
o alarde das crianças do arrabalde;
e de noite, no ócio capadócio,
junto aos lampiões espiões, os bordões dos violões;
e a serenata ao luar de prata (Mulata ingrata que mata...);


e depois o silêncio, o denso, o intenso, o imenso silêncio...
A rua que eu imagino, desde menino,
para o meu destino pequenino
é uma rua qualquer onde desfolha um malmequer
uma mulher que bem me quer
é uma rua, como todas as ruas, com suas duas calças nuas,
correndo paralelamente, como a sorte diferente de toda gente,
para a frente, para o infinito;
mas uma rua que tem escrito um nome bonito,
bendito, que sempre repito e que rima com mocidade,
liberdade, tranqüilidade: RUA DA FELICIDADE...


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