Chove.
A vidraça chora.
O vento põe no parque um soluço de outono.
Range uma porta e bate,
e parece que implora numa voz de abandono.
Chove.
Dir-se-ia que milhões de alfinetes
acertam nos vidros frios e se espetam.
Chove.
A vidraça chora.
O céu esconde a última nesga azul,
que existe, sob um manto cinzento e móvel.
Chove.
A vida é triste.
--- que importa!
Ulule o vento, bata a porta
e tombe a chuva!
Que importa!
Tenho nos olhos um clarão que nada turva,
tenho na vida um céu azul e imóvel;
tenho na alma um jardim ondulante de palmas
balançado em pleno anil por brisas calmas:
e eu penso nela!
Chove...
- a vida é bela!