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Eric Ponty


No meio da existência tinha um homem
tinha um homem no meio da existência
tinha um homem
no meio da existência tinha um homem.

Nunca mais existirá na meia existência
tinha um homem
tinha um homem no meio da existência
no meio da existência tinha um homem
que meio da existência tinha uma voz
tinha uma voz no meio da existência
tinha uma voz
no meio da existência tinha uma voz.

Nunca mais existirá esse encantamento
da Minas de meus versos pernoitados.

Nunca mais olvidarei do acontecimento
da alma de minha consciência
no meio da existência de minhas igrejas
exauridas. Rude sino. Fatigadas almas.

Nunca mais existirá esse acontecimento
na Minas de minhas igrejas fatigadas.


No meio caminho não havia caminhos
tinha Minas no meio do caminho
no meio do caminho não há caminhos
Minas no meio
do meio
nas Minas. Abissal. Indissolúvel.



Das tardes, setembro renasce - Eric Ponty

Trazidas das tardes, setembro renasce,
da fala da moça à janela sombria,
da torre tão pútrida voz da abiose ,
das águas do rio deste brilho do dia.

Eira sem beira das frontes das casas,
estio que tangido da terra postada,
dos cães deste abril sós urrando do prado,
dos ossos sem fôlego quase das asas.

Da moça franzina cá parva de olhar,
das aves sem branco do céu destas nuvens,
dos tons azuis mortos das frontes das pontes.

Passagem dos rios desta pedra do mito,
tinir quase breve das folhas das margens,
passadas dos passos dos mortos do séquito.





Transmutação do pó - Eric Ponty

 Pode o pobre nobre pó recriar
 o vazio dissimulado nas entranhas do significado
 na aurora primaveril do novotempo.

 O pó morre envelhecendo só,
 no nó das esparralhadas histórias
 e o poeta ardiloso
 quer recriar a musíngua num febril gesto.

 O antanho e o amanhecer falecem na espera
 um minuto de perspectiva apenas mais um minuto
 entre vozes que soaram bem claro opacas foram
 em inexprimir o de uma só condição
 sintaxe articulada em malicias da contradição
 um detalhe de uma renascença
 um detalhe de aliteração
 não se deve exprimir e silenciar no antanho
 um amanhecer claro, porém escuro
 uma história oculta dentro de outra história
 ecoando
 no amarelecimento da memória.

 Nas áreas esquecidas da memória, o pó é um Dó,
 arquivado nas lembranças dos versos inversos da dor,
 articulada conjugação do primeiro último verso
 implantado nos isolados seres em dor e divagação
 radioativas imagens cavalgadas de silêncio pleno
 no eloqüente murmuro anunciado em tropel,
 desencanto envolto no pó.

 E o pó se fez homem se fez poeta
 envolvido pelo silêncio de imagens
 de tanto percorrer para fora deste universo
 fundido antes de ser e antes de estar
 solidão é longínqua
 e o espectador
 não percebe a eloqüência da complexidade
 transferida num rápido olhar do objeto
 na facilidade tão fácil a perda de profundidade
 de um instante abjeto e fugas de subjetividade
 do gesto de se fazer compreensível.

 Do alto da pedra em mar alto
 observar luzindo embarcação náutica
 noite traz seus preceitos, seus medos,
 neste negro caminho de águas claras
 onipotência e fragilidade sussurrando versos vãos
 último toque da linguarte
 último toque do pode ser
 último toque de proporcionar uma visão
 último toque do penúltimo toque do tocador
 e a vida foi vida em fibra
 jaz um mar.

 Elaborada palavra desfigurando-se em nada
 um enlace foi formado de um grito em suspiro
 endiabrada cantata só de vento lento
 virgens imagens no arpoador foram pronunciadas
 sopro de uma trombeta marinha
 e o fundo funda-se no próprio fundo
 irregular omivisão do tempo cru em movimento
 e o homem se fez pó se fez poeta se fez Dó
 era um início de um outro princípio
 eis as gêneses consumidas em marinhas águas
 um inevitável encontro louco
 metamorfosear-se em pó para ser novo
 e ressurgir cantando e ressurgir do fundo
 deste oco que é o sopro da sobrevida de um cantador.

 Nobre pó rima em Dó de uma sinfonia finda
 ninfas do desejo em asas falhas sobrevoam
 a recriar novas línguas,e a recriar ainda
 último verso da criação
 e o pó se fez presente que se fez ausente
 transfigurar-se do desenlace febril
 tudo não passara de um sonho senil
 diante de um penhasco
 agora ressuscitado dos pesadelos
 adquire lento
 perspectiva da observação.

 O primeiro verbo do início foi um sopro
 delírio interior de um Deus-Tudo
 de barro,
 este artefato de lodo fez o homem,
 e com um novo sopro de novo o desfez seu ato
 que do pó fênix redimiu todas as formas
 num novo ato só.




Estudo Para Metáfora - Eric Ponty


Rasguei dos meus cadernos
os meus sonhos colhidos
nos verdes campos de aurora.

Rasguei dos meus cadernos
coisas e frases definitivas
como existência ou alma.

Rasguei dos meus cadernos
as metáforas
e das metáforas
lancei nas sombras.

II


Onde foi o princípio e o findo
é metáfora.

Onde o sol toca ao meio-dia
é metáfora.

Onde existem voos ausentes
é metáfora.

Onde se vasculha os destroços
é metáfora.

E nos campos onde se fazem
a textura.


Semblante triste à lua - Eric Ponty



I

Semblante triste à luz da nesga lua,
ruído tocar dos olhos toam da rua,
tangida branca rês rubor da tarde,
dum majestoso passo ardor alarde.

Ébria da sebe fez pascer da face,
dum pensamento tons se partem nasce,
excetas cenas verve no crepúsculo,
sonhada luz raiz que cede opúsculo.

Do majestoso céu reluz penhor,
amada culto fio tremor da dor,
mágoas sãs pendem cimos do pendor.

Se do penar contigo frio faz findo,
nasce alarido céu findar dos hinos,
ó doiro fonte, lousa cimos vindos.

II

Fatiga sobre prados vistos montes,
é dum sonoro ou vão silente lied,
dores do espírito, ave efêmero ente,
por ela, os homens sós aceitam são.

Bela ave brandem tempos vão mutáveis,
saberão mundo ficou mais ainda
que inutilmente, quando voz pisou,
quando por ela andou bravio estame.

Lamento desse instante existe vão,
não vou contente nem me vou infeliz,
é minha sina está traçado estio.

Matérias dão coisas vagas tarde,
não sinto néctar nem martírio mar,
Usurpo noites, dias na quadra areias.




Esboço da tarde - Eric Ponty

Eu sou a ilustre tarde cuja coroa,
Grande lustre do mundo ainda doa,
Nós outros, cuja dama tanto traz,
Grande tarde das horas se refaz.

Crepúsculo celeste berço adia,
Que observa os tons domados deste dia,
Mas insistindo lua por derradeira,
Com as ocultas vistas que recreia.

Aflora as flores rubras deste espanto,
E forte alteração solene manto,
Por vindouro hemisfério nu do outono.

Veio à tarde no céu pintando os pobres,
Vão das horas descendo de tons lúgubres,
Neste trabalho árduo que me ufano.


Eric Ponty


Vozes.
Inferno. Salmos.
maduro fruto da árvore.

Vozes.
Inferno. Salmos.
dêitico fruto dos galhos.
bebido das folhas.
bebido da relva.

Vozes.
o homem e a interrogação
diante duma árvore.

Vozes,
o homem existido
galhos diante da vida.


Pequena Octavia - Eric Ponty

A pequena Octavia
olha pela janela.
Pensa na imensidão de Deus
sozinho olhando
dois olhinhos de criança.