Como árvore que sou
adormeço a sossegar as minhas folhas e
os pássaros transparentes que se agitam nos
ninhos
da minha inquietação.
Sei de cor os sonhos dos ventos
que balançam este corpo tronco
onde dedos vegetais bastam
o rumor das seivas silenciosas. A noite
propaga o ardor da ternura até às minhas
raízes
que vão bebendo lentamente as lágrimas de um
vento azul,
cuja dor deambula sobre as pedras, em oração à
terra,
para vir confortar-se em silêncio no mais
fundo de mim.
Escondo por dentro do nada os segmentos de
estrelas
que restaram da partida dos pólenes. Flutuam
na quietude das noites claras onde a chama do
leito
de açúcares permanece, visível no limbo da
noite.
Demoro neste entorpecimento idealizado o
termo, os
renovados filhos da gravidez da terra
e do incontrolado cio dos relâmpagos. Em mim
o verde se transforma em música, essa música
sem tempo,
que lembra toda a noite da floresta, toda a
serenidade
dos lagos, toda a doçura do ventre das baías.
Como árvore que sou, amo o vôo do pássaro e a
lonjura da terra. E sou a terra. E sou o
pássaro.
E a raiz do amor. E a raiz da sombra. E a raiz
solar
que me erguerá até à luz que me fascina
e me beija docemente a cabeleira lavada
de esperança. Sou a árvore. Um rio
de vida que sobe lentamente
as colinas do céu.