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Soneto 30 - William Shakespeare


Quando, em silêncio, penso, docemente,
Sobre fatos idos e vividos,
Sinto falta do muito que busquei,
E desperdiço um tempo precioso com antigos lamentos:

Então meus olhos naufragam sem mais saber chorar,
Por queridos amigos envoltos pela noite do esquecimento,
E novamente choro o amor há tanto abandonado,
Gemendo por algo que não mais vejo:

Assim, posso sofrer as velhas dores,
E lamentar, de pesar em pesar,
Uma triste história de antigas mágoas,

Que pranteio como se não as tivesse pranteado antes.
Mas quando penso em ti, querida amiga,
Todas as perdas cessam, e a tristeza finda.



Soneto 94 - William Shakespeare


Aqueles que têm o poder de ferir e nada farão,
Que não fazem o que demonstram,
Que ao impelir outros, são como pedra,
Imóveis, frios, e imunes à tentação –

E por direito caem nas graças divinas,
E herdam da natureza as riquezas de seu custo;
Eles são os senhores e donos de si mesmos,
Os outros, apenas os servos de sua excelência.

A flor do verão é doce para a estação,
Embora para si mesma apenas viva e feneça;
Mas se essa flor for ferida em sua essência,

A erva daninha mais singela arrancará a sua honra;
Pois o mais doce se torna amargo por seus feitos;
Lírios mais fétidos do que as ervas daninhas.


Sonhos de uma noite de verão - Shakespeare


Há quem diga que todas as noites
são de sonhos.
Mas há também quem diga
nem todas,
Só as de verão...
Mas no fundo
isso não tem muita importância.

O que interessa mesmo
não são as noites em si,
São os sonhos.
Sonhos que o homem sonha sempre.
Em todos os lugares,
Em todas as épocas do ano,
dormindo ou acordado.


Soneto 43 - William Shakespeare


Quanto mais pisco, melhor meus olhos veem,
Pois o dia todo vislumbram coisas que nada são;
Mas, quando adormeço, surges em meus sonhos
E, luzindo no escuro, fulgem em meio ao breu;
E tu, cujo vulto reluz entre as sombras,
Cuja forma mostra-se alegre,
Na claridade, tua luz é ainda maior,
Que, ante meus olhos baços, faz tua sombra brilhar!
Como (eu diria) seriam meus olhos abençoados
Ao ver-te à luz do dia,
Quando, na calada da noite, tua sombra bela e imperfeita
Permanece sob minhas pálpebras durante o sono!
Todos os dias são noites, até que eu te veja,
E as noites, dias claros, ao mostrar-te em meus sonhos.



És música e a música ouves triste? - William Shakespeare


És música e a música ouves triste?
Doçura atrai doçura e alegria:
porque amas o que a teu prazer resiste,
ou tens prazer só na melancolia?
se a concórdia dos sons bem afinados,
por casados, ofende o teu ouvido,
são-te branda censura, em ti calcados,
porque de ti deviam ter nascido.
Vê que uma corda a outra casa bem
e ambas se fazem mútuo ordenamento,
como marido e filho e feliz mãe
que, todos num, cantam de encantamento:
      É canção sem palavras, vária e em
      uníssono: "só não serás ninguém".

Soneto LXIII - William Shakespeare


Quanto mais fecho os olhos melhor vejo;
o dia todo vi coisas vulgares
mas quando durmo em sonho te revejo
pondo no escuro luzes estelares,

tu, cuja sombra faz brilhar as sombras,
como podes formar das sombras luzes
no claro dia que de luz assombras
pois tanto brilho no negror produzes?

Como podem meus olhos abençoados
assim te ver brilhar em pleno dia
quando na noite escura deslumbrados

dentro de fundo sono eu já te via?
Meu dia é noite quando estás ausente
e à noite eu vejo o sol se estás presente.



Soneto XVIII - William Shakespeare


Se te comparo a um dia de verão
És por certo mais belo e mais ameno
O vento espalha as folhas pelo chão
E o tempo do verão é bem pequeno.

Ás vezes brilha o Sol em demasia
Outras vezes desmaia com frieza;
O que é belo declina num só dia,
Na terna mutação da natureza.

Mas em ti o verão será eterno,
E a beleza que tens não perderás;
Nem chegarás da morte ao triste inverno:

Nestas linhas com o tempo crescerás.
E enquanto nesta terra houver um ser,
Meus versos vivos te farão viver.



Soneto 116 - William Shakespeare


De almas sinceras a união sincera
 Nada há que impeça: amor não é amor
 Se quando encontra obstáculos se altera
 Ou se vacila ao mínimo temor.

 Amor é um marco eterno, dominante,
 Que encara a tempestade com bravura;
 É astro que norteia a vela errante
 Cujo valor se ignora, lá na altura.

 Amor não teme o tempo, muito embora
 Seu alfanje não poupe a mocidade;
 Amor não se transforma de hora em hora,

 Antes se afirma, para a eternidade.
 Se isto é falso, e que é falso alguém provou,
 Eu não sou poeta, e ninguém nunca amou.