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O primeiro de todos os meus sonhos - E.E. Cummings


o primeiro de todos os meus sonhos era sobre
um amante e o seu único amor,
caminhando devagar (pensamento no pensamento)
por alguma verde misteriosa terra

até o meu segundo sonho começar—
o céu é agreste de folhas; que dançam
e dançando arrebatam (e arrebatando rodopiam
sobre um rapaz e uma rapariga que se assustam)

mas essa mera fúria cedo se tornou
silêncio: em mais vasto sempre quem
dois pequeninos seres dormem (bonecas lado a lado)
imóveis sob a mágica

para sempre caindo neve.
E então este sonhador chorou: e então
ela rapidamente sonhou um sonho de primavera
—onde tu e eu estamos a florescer


Chamar a si todo o céu com um sorriso - E.E. Cummings

que o meu coração esteja sempre aberto às pequenas 
aves que são os segredos da vida 
o que quer que cantem é melhor do que conhecer 
e se os homens não as ouvem estão velhos 

que o meu pensamento caminhe pelo faminto 
e destemido e sedento e servil 
e mesmo que seja domingo que eu me engane 
pois sempre que os homens têm razão não são jovens 

e que eu não faça nada de útil 
e te ame muito mais do que verdadeiramente 
nunca houve ninguém tão louco que não conseguisse 
chamar a si todo o céu com um sorriso



Nalgum lugar em que eu nunca estive - e.e. Cummings


nalgum lugar em que eu nunca estive, alegremente além
 de qualquer experiência, teus olhos têm o seu silêncio:
 no teu gesto mais frágil há coisas que me encerram,
 ou que eu não ouso tocar porque estão demasiado perto

 teu mais ligeiro olhar facilmente me descerra
 embora eu tenha me fechado como dedos, nalgum lugar
 me abres sempre pétala por pétala como a Primavera abre
 (tocando sutilmente, misteriosamente) a sua primeira rosa

 ou se quiseres me ver fechado, eu e
 minha vida nos fecharemos belamente, de repente,
 assim como o coração desta flor imagina
 a neve cuidadosamente descendo em toda a parte;

 nada que eu possa perceber neste universo iguala
 o poder de tua imensa fragilidade: cuja textura
 compele-me com a cor de seus continentes,
 restituindo a morte e o sempre cada vez que respira

 (não sei dizer o que há em ti que fecha
 e abre; só uma parte de mim compreende que a
 voz dos teus olhos é mais profunda que todas as rosas)
 ninguém, nem mesmo a chuva, tem mãos tão pequenas!


A chuva - e.e.cummings


 

ninguém, nem mesmo a chuva, tem mãos tão pequenas...
e.e.cummings

e chove
tua cidade esconde a serenidade de saber-te ali
ao alcance do meu grito mais suave
entre caminhos de vozes e ventos cuja cor chora
a desistência dos sonhos
e ama
tua chuva cai em meus cabelos como aquelas flores
pintadas nos jardins de Uffizi - enquanto choves
diz ao meu desejo: qual a estação do teu olhar -
ao meu recordo no ciclo entre mim e as nuvens
e lembra
aqui era o sereno feito corpo mais que sentimento
quando os grilos encantavam as águas em outro ermo -
apenas o teu nome sabe a imensa e minha loucura -
e ousa
se ousares abre mais essa janela que o caibro
[esconde
e voa sobre as palmas - as mãos de chuva nos
[meus olhos
e acalenta
estas palavras como sempre e nunca -
e esquece

Carrego o seu coração - e.e. cummings

Eu carrego seu coração comigo
(Eu o carrego no meu coração)
Eu nunca estou sem ele
(onde quer que eu vá, você vai;
e o que quer que eu faça, eu faço por você)

Eu não temo o destino (porque você é o meu destino)
Eu não quero o mundo por mais belo que seja
Porque você é meu mundo, minha verdade

e você é o que a lua sempre significou
o que o sol sempre cantou

Aqui está o segredo mais profundo que ninguém sabe
(aqui está a raiz da raiz, o broto do broto
e o céu do céu de uma árvore chamada vida;
que cresce mais alta do que a alma pode esperar
ou a mente pode esconder).
Este é o milagre que distancia as estrelas

Eu carrego seu coração
(carrego no meu coração)