Aves marinhas soltaram-se dos
teus dedos
quando anunciaste a despedida
e eu que habitara lugares
secretos
e me embriagara com os teus
gestos
recolhi as palavras
vagabundas
como a tempestade que engole
os barcos
porque ama os pescadores
Impossível separarmo-nos
agora que gravaste o teu
sabor
sobre o súbito
e infinito parto do tempo
Por isso te toco
no grão e na erva
e na poeira da luz clara
a minha mão
reconhece a tua face de sal
E quando o mundo suspira
exausto
e desfila entre mercados e
ruas
eu escuto sempre a voz que é
tua
e que dos lábios
se desprende e se recolhe
Ali onde se embriagam
os corpos dos amantes
o teu ventre aceitou a gota
inicial
e um novo habitante
enroscou-se no segredo da tua
carne
Nesse lugar
encostámos os nossos lábios
à funda circulação do sangue
porque me amavas
eu acreditava ser todos os
homens
comandar o sentido das coisas
afogar poentes
despertar séculos à frente
e desenterrar o céu
para com ele cobrir
os teus seios de neve