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A estrada não trilhada - Robert Frost

 Num bosque, em pleno outono, a estrada bifurcou-se,
 mas, sendo um só, só um caminho eu tomaria.
 Assim, por longo tempo eu ali me detive,
 e um deles observei até um longe declive
 no qual, dobrando, desaparecia…

Porém tomei o outro, igualmente viável,
 e tendo mesmo um atrativo especial,
 pois mais ramos possuía e talvez mais capim,
 embora, quanto a isso, o caminhar, no fim,
 os tivesse marcado por igual.

E ambos, nessa manhã, jaziam recobertos
 de folhas que nenhum pisar enegrecera.
 O primeiro deixei, oh, para um outro dia!
 E, intuindo que um caminho outro caminho gera,
 duvidei se algum dia eu voltaria.

Isto eu hei de contar mais tarde, num suspiro,
 nalgum tempo ou lugar desta jornada extensa:
 a estrada divergiu naquele bosque – e eu
 segui pela que mais ínvia me pareceu,
 e foi o que fez toda a diferença.


O pássaro cantor - Robert Frost


Eis um cantor, que muita gente já ouviu,
cantar na mata funda, em meados do estio,
e que faz soar de novo os mudos arredores.
Diz que o verde está velho, e diz que, para as flores,
dez vezes mais que o estio importa a primavera;
que em chuveiros a flor da cereja e da pera
despencou sobre o chão em dias já passados
plenos de sol, por uns instantes só toldados.
E vem o outro cair que chamamos de outono,
que o pó da estrada cobre e enfeita de abandono.
Como os outros seria, ao findar sua lida;
não soubesse, porém, em cantar não cantar.
A pergunta que traz, sem nada perguntar,
é o que fazer de alguma coisa diminuída.


A estrada que não tomei - Robert Frost

Duas estradas num bosque amarelo divergem:
triste por não poder seguir as duas
sendo um só viajante, muito tempo parei
olhando uma delas, até onde podia alcançar,
pois atrás das moitas ela dobrava.

Então tomei a outra que me pareceu de igual beleza,
uma vantagem talvez oferecendo
por ser cheia de grama, querendo ser pisada:
embora neste ponto o estado fosse o mesmo
e uma, como a outra, tivesse sido usada.

E naquela manhã todas as duas tinham
folhas ainda não escurecidas pelos passos.
Ora! Guardei a primeira para um outro dia!
Mas sabendo como uma estrada leva à outra,
duvidei poder um dia voltar!

Contarei esta estória suspirando,
daqui a séculos e séculos em algum outro lugar:
duas estradas, num bosque, divergiam
e eu tomei a que era menos frequentada
e foi isso a razão de toda a diferença!

Um pássaro menor - Robert Frost



Quis, de fato, que o pássaro voasse
E próximo ao meu lar não mais cantasse.

Cheguei à porta para afugentá-lo,
Por sentir-me incapaz de suportá-lo.

Penso que a inteira culpa fosse minha,
E não do pássaro ou da voz que tinha.

O erro estava, decerto, na aflição
De querer silenciar uma canção.


Passando incógnito - Robert Frost



É em vão que se ergue a voz, que se suspira
Sob o rumor das folhas, que respira:
Que fazes, entre a sombra secular
Das ramas, ocupado com luz e ar?

Do que a modesta orquídea menos sabes,
Feliz do brilho pouco que lhe cabe,
Que das folhas que a adornam não é dona,
Cuja flor para o solo se flexiona.

Por uma dobra a base lhe arrebatas –
E pareces pequeno ao pé das matas.
Desprende-se uma folha e cai, singela,
Sem trazer o teu nome escrito nela.

Cumpres tua hora e segues adiante.
E as matas ficam, seja como for,
Sem darem pela falta dessa flor
Que tomaste como um troféu do instante.