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De Rerum Natura - Marco Lucchesi


Alheios ao destino 
dos mortais

além das nuvens
claras e sombrias

vivem os deuses
raros nas alturas...

livres de enganos
dores nostalgias

de morte vil
que aos poucos nos invade;

da chuva de átomos
em que se evade

indefinidamente
a natureza

em sua eterna
mas avara empresa

de reunir
os átomos-enxame,

seguindo a força
rude do cliname,

para formar
compostos provisórios,

que se desfazem
noutros repertórios:

estrelas, águas,
nuvens, tempestades,

cristais, abelhas,
glórias ou cidades

e flores, pedras,
corpos, consciência

– figuram
como pálida aparência...

e acima desse
mundo sempre em guerra

acima
da miragem dessa terra

repousam
esquecidos nos meatos

mais livres
os celestes, mais beatos




O outro lado da noite? - Marco Lucchesi

A natureza, em seu amor ardente,
no círculo da própria negação,
em ouro, pedra e sal ambivalente,
trabalha na perene transição.
Dissolve e coagula eternamente
a vida, que renasce, em floração,
da morte, como a lua refulgente,
surgindo na profunda escuridão.
Na síntese do velho Magofonte,
a vívida matéria se desfaz
em águas claras, na secreta fonte:
até que inesperada se refaz,
envolta, como a Uroburos insonte,
num círculo sutil que não se esfaz.
  


Vigília - Marco Lucchesi



Ardem
sombras
 no ocaso

pedras
moem
sonhos

céus
abatem
quixotes

(sonho
sombrio

que a vida
abrevia)

ardem
sombras
no ocaso



Cantiga de amor - Marco Lucchesi


Quando os objetos da Terra perdiam seu encanto,
restavam para mim os céus...
Johann Lambert

Acima de nós
tudo é silêncio

erram planetas
insones

abismos
devoram estrelas

lagos
de hidrogênio
se resfriam

supernovas
cantam
como cisnes

e o silêncio
revela
outro silêncio...

- olha para o céu
amada

olha
e não diz nada

E a soma das distâncias

que me ferem
mal

se compara ao
silêncio

que
me assalta