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Tomas Tranströmer


Fim de estação. Eu continuei a viagem
Para além do fim da estação.

Quantos eram? Quatro,
Cinco, poucos mais.

Casas, caminhos, nuvens,
Enseadas azuis, montanhas
Abrem as suas portas



Adernagem da noite para o dia - Tomas Tranströmer


Quieta, a formiga acorda, espreita para dentro do
nada. E para além das gotas da escura folhagem e
do murmúrio nocturno, profundo no desfiladeiro do verão,
não se ouve mais nada.

O abeto ergue-se como o ponteiro de um relógio,
espinhoso. A formiga arde na sombra da montanha.
Gritos, pássaros! E por fim, vagarosamente, a carroça
das nuvens começa a rolar.


Pássaros matinais - Tomas Tranströmer

Desperto o automóvel
que tem o pára-brisas coberto de pólen.
Coloco os óculos de sol.
O canto dos pássaros escurece.

Enquanto isso outro homem compra um diário
na estação de comboio
junto a um grande vagão de carga
completamente vermelho de ferrugem
que cintila ao sol.

Não há vazios por aqui.

Cruza o calor da primavera um corredor frio
por onde alguém entra depressa
e conta como foi caluniado
até na Direcção.

Por uma parte de trás da paisagem
chega a gralha
negra e branca. Pássaro agoirento.
E o melro que se move em todas as direcções
até que tudo seja um desenho a carvão,
salvo a roupa branca na corda de estender:
um coro da Palestina:

Não há vazios por aqui.

É fantástico sentir como cresce o meu poema
enquanto me vou encolhendo
Cresce, ocupa o meu lugar.

Desloca-me.
Expulsa-me do ninho.
O poema está pronto.



Desde a montanha - Tomas Tranströmer

Estou na montanha e vejo a enseada.
Os barcos descansam sobre a superfície do verão.
«Somos sonâmbulos. Luas vagabundas.»
Isso dizem as velas brancas.

«Deslizamos por uma casa adormecida.
Abrimos as portas lentamente.
Assomamo-nos à liberdade.»
Isso dizem as velas brancas.

Um dia vi navegar os desejos do mundo.
Todos, no mesmo rumo – uma só frota.
«Agora estamos dispersos. Séquito de ninguém.»
Isso dizem as velas brancas.


Tormenta - Tomas Tranströmer



De súbito o caminhante encontra aqui o velho
carvalho gigante, como um alce mudado em pedra
com a larga copa frente à força verde negra
do mar de Setembro.

Tormenta do norte. É o tempo em que as sorvas
amadurecem. Desperto ouve na obscuridade
as constelações estampadas
no mais alto do carvalho.

A árvore e a nuvem - Tomas Tranströmer


Uma árvore anda de aqui para ali sob a chuva,
com pressa, ante nós, derramando-se na cinza.
Leva um recado. Da chuva arranca vida
como um melro ante um jardim de fruta.

Quando a chuva cessa, detém-se a árvore.
Vislumbramo-la direita, quieta em noites claras,
à espera, como nós, do instante
em que flocos de neve floresçam no espaço.

O penhasco da águia - Tomas Tranströmer

Por detrás do vidro do terrário
os répteis
estranhamente imóveis.

Uma mulher pendura roupa
em silêncio.
A morte é uma calmaria.

Pelo fundo da terra
a minha alma escorrega
silenciosa como um cometa.

Poemas haikai - Tomas Tranströmer

Os fios elétricos
estendidos por onde o frio reina
Ao norte de toda música.

O sol branco
treina correndo solitário para
a montanha azul da morte.

Temos que viver
com a relva pequena
e o riso dos porões

Agora o sol se deita.
sombras se levantam gigantescas.
Logo logo tudo é sombra.

As orquídeas.
Petroleiros passam deslizando.
É lua cheia.

Fortalezas medievais,
cidades desconhecidas, esfinges frias,
arenas vazias.

As folhas cochicham:
Um javali está tocando órgão.
E os sinos batem.

E a noite se desloca
de leste para oeste
na velocidade da lua.

Duas libélulas
agarradas uma na outra
passam e se vão

Presença de Deus.
No túnel do canto do pássaro
uma porta fechada se abre.

Carvalhos e a lua.
Luz e imagem de estrelas salientes.
O mar gelado.


Tomas Tranströmer, vencedor do prêmio Nobel de Literatura 2011.