Dias de lentidão, dias de chuva,
Dias de espelhos partidos e de agulhas perdidas,
Dias de pálpebras fechadas no horizonte dos mares,
De horas todas semelhantes, dias de cativeiro,
Meu espírito que brilhava ainda sobre as folhas
E as flores, meu espírito está nu como o amor,
A aurora que ele esquece lhe faz baixar a cabeça
E contemplar seu corpo obediente e vão.
No entanto, eu vi os olhos os mais belos do mundo,
Deuses de prata segurando safiras nas mãos,
Verdadeiros deuses, pássaros na terra
E na água, eu os vi.
Suas asas são as minhas, nada existe
A não ser seu voo que sacode minha miséria,
Seu voo de estrela e de luz
Seu voo de terra, seu voo de pedra
Sobre as ondulações de suas asas,
Meu pensamento sustentado pela vida e pela morte.