Não vás tão docilmente nessa
noite linda;
Que a velhice arda e brade ao
término do dia;
Clama, clama contra o apagar
da luz que finda.
Embora o sábio entenda que a
treva é bem-vinda
Quando a palavra já perdeu
toda a magia,
Não vai tão docilmente nessa
noite linda.
O justo, à última onda, ao
entrever, ainda,
Seus débeis dons dançando ao
verde da baía,
Clama, clama contra o apagar
da luz que finda.
O louco que, a sorrir,
sofreia o sol e brinda,
Sem saber que o feriu com a
sua ousadia,
Não vai tão docilmente nessa
noite linda.
O grave, quase cego, ao
vislumbrar o fim da
Aurora astral que o seu olhar
incendiaria,
Clama, clama contra o apagar
da luz que finda.
Assim, meu pai, do alto que
nos deslinda
Me abençoa ou maldiz. Rogo-te
todavia:
Não vás tão docilmente nessa
noite linda.
Clama, clama contra o apagar
da luz que finda.
tradução: Augusto de Campos