Uma vez, enchi a minha mão de bruma. Quando a abri, a bruma era uma larva.
Voltei a fechar a mão, e então era um pássaro. E fechei e abri novamente a mão, e na sua palma encontrava-se um homem de rosto triste, virado para o céu.
Mais uma vez fechei a mão, e quando a abri já só havia bruma. Mas escutei uma canção de uma doçura extrema.
A Música é a linguagem dos espíritos. Sua melodia é como uma brisa saltitante que faz nossas cordas estremecerem de amor. Quando os dedos suaves da música tocam à porta de nossos sentimentos, acordam lembranças que há muito jaziam escondidas nas profundezas do Passado.
A alma da Música nasce do espírito e sua mensagem brota do Coração.
Quando Deus criou o Homem, deu-lhe a Música como uma linguagem diferente de todas as outras. Mesmo em seu primarismo, o Homem primitivo curvou-se à glória da música; ela envolveu os corações dos reis e os elevou além de seus tronos.
Nossas almas são como flores tenras à mercê dos ventos do Destino. Elas tremulam à brisa da manhã e curvam as cabeças sob o orvalho cadente do céu.
A canção dos pássaros desperta o Homem de sua insensibilidade.
Quando os pássaros cantam, estarão chamando as flores nos campos, ou estão falando às árvores, ou apenas fazem eco ao murmúrio dos riachos? Pois o Homem, mesmo com seus conhecimentos, não consegue saber o que canta o pássaro, nem o que murmura o riacho, nem o que sussurram as ondas quando tocam as praias vagarosa e suavemente. Mesmo com sua percepção, o homem não pode entender o que diz a chuva quando cai sobre as folhas das árvores, ou quando bate devagarinho nos vidros das janelas. Ele não pode saber o que a brisa segreda às flores nos campos.
Mas o coração do homem pode pressentir e entender o significado dessas melodias que tocam seus sentidos. A Sabedoria Eterna sempre lhe fala numa linguagem misteriosa; a Alma e a Natureza conversam entre si, enquanto o Homem permanece mudo e confuso.
Mas o Homem já não chorou com esses sons? E suas lágrimas não são, porventura, uma eloqüente demonstração? Divina Música!
Filha da Alma e do Amor Cálice da amargura e do Amor Sonho do coração humano, fruto da tristeza Flor da alegria, fragrância e desabrochar dos sentimentos Linguagem dos amantes, confidenciadora de segredos Mãe das lágrimas do amor oculto Inspiradora de poetas, de compositores e dos grandes realizadores Unidade de pensamento dentro dos fragmentos das palavras Criadora do amor que se origina da beleza Vinho do coração que exulta num mundo de sonhos Encorajadora dos guerreiros, fortalecedora das almas Oceano de perdão e mar de ternura. Ó música! Em tuas profundezas depositamos nossos corações e almas Tu nos ensinaste a ver com os ouvidos E a ouvir com os corações.
Quando os pássaros cantam,
estarão chamando as flores nos campos,
ou estão falando às árvores,
ou apenas fazem eco ao murmúrio dos riachos?
Pois o Homem, mesmo com seus conhecimentos,
não consegue saber o que canta o pássaro,
nem o que murmura o riacho,
nem o que sussurram as ondas
quando tocam as praias vagarosa e suavemente.
Mesmo com sua percepção,
o homem não pode entender o que diz a chuva
quando cai sobre as folhas das árvores,
ou quando bate lentamente nos vidros das janelas.
Ele não pode saber o que a brisa segreda às flores nos campos.
Amai-vos um ao outro, mas não façais do amor um grilhão. Que haja, antes, um mar ondulante entre as praias de vossa alma. Enchei a taça um do outro, mas não bebais da mesma taça. Dai do vosso pão um ao outro, mas não comais do mesmo pedaço. Cantai e dançai juntos, e sede alegres, mas deixai cada um de vós estar sozinho. Assim como as cordas da lira são separadas e, no entanto, vibram na mesma harmonia. Dai vosso coração, mas não o confieis à guarda um do outro. Pois somente a mão da Vida pode conter vosso coração. E vivei juntos, mas não vos aconchegueis demasiadamente. Pois as colunas do templo erguem-se separadamente. E o carvalho e o cipreste não crescem à sombra um do outro.