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Colhendo amoras - Sylvia Plath

Ninguém no caminho, e nada, nada a não ser amoras,
amoras dos dois lados, embora mais à direita,
uma álea de amoras, descendo em curvas fechadas, e um mar
algures, lá ao longe, arfando. Amoras
tão grandes como a cabeça do meu polegar, e mudas como olhos
negros nas sebes, repletas
de um suco azul-vermelho. Este desperdiça-se nos meus dedos.
Não pedira tal comunhão de sangue; devem amar-me.
Comprimem-se numa garrafa de leite, de encontro aos seus lados.

Sobre mim passam, com a sua cacofonia, os corvos em bandos negros,
pedaços de papel queimado oscilando num céu ventoso.
A sua voz é a única que está a protestar, a protestar.
Julgo que o mar não vai mesmo aparecer.
Os verdes e altos prados brilham como iluminados por dentro.
Chego a um arbusto de bagas tão maduras: é um arbusto de moscas,
suspendendo os seus abdómens azuis esverdeados e os vidrilhos alados de um biombo chinês.
O festim de mel das bagas surpreendeu-as; julgam-se no paraíso.

Para além de uma curva, as bagas e os arbustos acabam.

A única coisa que vem a seguir é o mar.
De entre duas colinas sopra contra mim um vento súbito,
sacudindo como fantasmas a sua roupa branca contra o meu rosto.
Estas colinas são demasiado verdes e suaves para terem saboreado o sal.
Sigo, entre elas, a vereda aberta pelas ovelhas. Uma última curva leva-me
até à face norte das colinas, e a face é urna rocha alaranjada
que olha para nada, nada a não ser uma grande extensão
de luzes brancas e cor de estanho e um ruído como o de um ourives
batendo sempre um metal rebelde.



Canção de Amor da Jovem Louca - Sylvia Plath

 Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro
 Ergo as pálpebras e tudo volta a renascer
 (Acho que te criei no interior da minha mente)

 Saem valsando as estrelas, vermelhas e azuis,
 Entra a galope a arbitrária escuridão:
 Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro.

 Enfeitiçaste-me, em sonhos, para a cama,
 Cantaste-me para a loucura; beijaste-me para a insanidade.
 (Acho que te criei no interior de minha mente)

 Tomba Deus das alturas; abranda-se o fogo do inferno:
 Retiram-se os serafins e os homens de Satã:
 Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro.

 Imaginei que voltarias como prometeste
 Envelheço, porém, e esqueço-me do teu nome.
 (Acho que te criei no interior de minha mente)

 Deveria, em teu lugar, ter amado um falcão
 Pelo menos, com a primavera, retornam com estrondo
 Cerro os olhos e cai morto o mundo inteiro:
 (Acho que te criei no interior de minha mente.)




Palavras - Sylvia Plath


Golpes
De machado na madeira,
E os ecos!
Ecos que partem
A galope.

A seiva
Jorra como pranto, como
Água lutando
Para repor seu espelho
Sobre a rocha

Que cai e rola,
Crânio branco
Comido pelas ervas.
Anos depois, na estrada,
Encontro

Essas palavras secas e sem rédeas,
Bater de cascos incansável.
Enquanto do fundo do poço, estrelas fixas
Decidem uma vida.

(tradução de Ana Cristina César)




Espelho - Sylvia Plath


Sou prateado e exato. Não tenho preconceitos.
Tudo o que vejo engulo no mesmo momento
Do jeito que é, sem manchas de amor ou desprezo.
Não sou cruel, apenas verdadeiro —
O olho de um pequeno deus, com quatro cantos.
O tempo todo medito do outro lado da parede.
Cor-de-rosa, malhada. Há tanto tempo olho para ele
Que acho que faz parte do meu coração. Mas ele falha.
Escuridão e faces nos separam mais e mais.

Sou um lago, agora. Uma mulher se debruça sobre mim,
Buscando em minhas margens sua imagem verdadeira.
Então olha aquelas mentirosas, as velas ou a lua.
Vejo suas costas, e a reflito fielmente.
Me retribui com lágrimas e acenos.
Sou importante para ela. Ela vai e vem.
A cada manhã seu rosto repõe a escuridão.
Ela afogou uma menina em mim, e em mim uma velha
Emerge em sua direção, dia a dia, como um peixe terrível.

Contusão - Sylvia Plath

A cor invade o lugar, púrpura baça.
O resto do corpo está todo pálido,
Cor de pérola.

Numa fenda de rocha
O mar suga obsessivamente,
Uma cavidade o âmago de todo o mar.

Do tamanho de uma mosca,
A marca do destino
Rasteja muro abaixo.

O coração se fecha.
O mar reflui,
Os espelhos são cobertos.