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O pássaro - Helena Figueiredo


Todos os anos, aquele pássaro volta.

Conheço-lhe o canto,
a forma destemida,
os trejeitos,

uma consanguinidade,
no avermelhado das folhas que o protegem,

e regressa a azáfama dos ninhos,
o pio apaixonado,
o estalar dos ovos,

um doce silêncio habitando o muro,

e a natureza plena,
esvoaça,
numa grata despedida,
em torno da chaminé.


Ocaso - Helena Figueiredo


Os passos da tarde saltam as pedras.
o cinzento oblíquo das sombras...

Na cortina rendada,
a santidade de uma ténue luz,
pontos acabados de bordar,
vozes de criança e passarada,
retalhos de oiro,
num castelo de soufflé.

Alguns anjos verdes, na orla do muro.

Depois,
o cerrar dos olhos,
sorver o momento…

O quadro explodirá para sempre,
no riso do mar.