Era uma vez,
mas eu me lembro como se fosse agora.
Eu queria ser trapezista,
minha paixão era o trapézio.
Me atirava do alto,
na certeza que alguém segurava-me as mãos
não me deixando cair.
Era lindo, mas eu morria de medo,
tinha medo de tudo quase:
cinema, parque de diversão, de circo, ciganos,
aquela gente encantada que chegava e seguia.
Era disso que eu tinha medo.
Do que não ficava pra sempre.
Era outra vez outro parque, outro circo,
ciganos e patinadores.
O circo chegou à cidade, era uma tarde de sonhos
e eu corri até lá.
Os artistas se preparavam nos bastidores para começar
o espetáculo e eu entrei no meio deles
e falei que queria ser trapezista.
Veio falar comigo uma moça do circo
que era a domadora,
era uma moça bonita,
mas era uma moça forte,
era uma moçona mesmo.
Me olhou, riu um pouco e disse
que era muito difícil mas que nada era impossível.
Depois veio o palhaço Polly, veio o Topsy,
veio Diderlang, que parecia um príncipe,
o dono do circo, as crianças, o público...
De repente apareceu uma luz lá no alto
e todo mundo ficou olhando.
A lona do circo tinha sumido
e o que eu via era a estrela
Dalva no céu aberto.
Quando eu me cansei de ficar olhando pro alto
e fui olhar pras pessoas,
só aí eu vi que estava sozinho.