Duas borboletas saíram ao meio-dia, valsaram em cima de um arroio, flecharam para o firmamento e repousaram sobre um raio de luz; Depois partiram as duas por cima de um mar reluzente, ainda que porto algum até hoje haja mencionado a chegada. Se falou com elas uma ave distante, se no mar etéreo encontraram uma fragata ou um cargueiro, não fui informada.
Algo existe num dia de verão, No lento apagar de suas chamas, Que me impele a ser solene. Algo, num meio-dia de verão, Uma fundura - um azul - uma fragrância, Que o êxtase transcende. Há, também, numa noite de verão, Algo tão brilhante e arrebatador Que só para ver aplaudo - E escondo minha face inquisidora Receando que um encanto assim tão trêmulo E sutil, de mim se escape.
A água se ensina pela sede; A terra, por oceanos navegados; O êxtase, pela aflição; A paz, pelos combates narrados; O amor, pela cinza da memória E, pela neve, os pássaros.
Ela varre com vassouras multicores E sai espalhando fiapos, Ó Dona arrumadeira do crepúsculo, Volta atrás e espana os lagos:
Deixaste cair novelo de púrpura, E acolá um fio de âmbar, Agora, vejam, alastras todo o leste Com estes trapos de esmeralda! Inda a brandir vassouras coloridas, Inda a esvoaçar aventais, Até que as piaçabas viram estrelas —
Moro na possibilidade Casa mais bela que a prosa, Com muito mais janelas E bem melhor, pelas portas De aposentos inacessíveis Como são, para o olhar, os cedros, E tendo por forro perene Os telhados do céu Visitantes, só os melhores; Por ocupação, só isto: Abrir amplamente minhas mãos estreitas Para agarrar o paraíso. Emily Dickinson
Alguns guardam o Domingo indo à Igreja. Eu o guardo ficando em casa Tendo um Sabiá como cantor E um Pomar por Santuário.
Alguns guardam o Domingo em vestes brancas Mas eu só uso minhas Asas E ao invés do repicar dos sinos na Igreja Nosso pássaro canta na palmeira.
É Deus que está pregando, pregador admirável E o seu sermão é sempre curto. Assim, ao invés de chegar ao Céu, só no final Eu o encontro o tempo todo no quintal.