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O sol e a menina - Elias José


Hoje muito cedo,
o sol saiu.
A menina não acordou
e o sol sumiu.

Depois, mais tarde,
o sol voltou.
A menina deu sorriso
e o sol ficou.

Depois do meio-dia,
o sol esquentou.
A menina olhou pro céu
e o sol se encantou.

Hoje, muito tarde,
o sol se escondeu.
Ficou vendo a menina
e de partir se esqueceu.


Tem tudo a ver - Elias José

A poesia
tem tudo a ver
com tua dor e alegrias,
com as cores, as formas, os cheiros,
os sabores e a música
do mundo.

A poesia
tem tudo a ver
com o sorriso da criança,
o diálogo dos namorados,
as lágrimas diante da morte,
os olhos pedindo pão.

A poesia
tem tudo a ver
com a plumagem, o voo e o canto,
a veloz acrobacia dos peixes,
as cores todas do arco-íris,
o ritmo dos rios e cachoeiras,
o brilho da lua, do sol e das estrelas,
a explosão em verde, em flores e frutos.

A poesia
— é só abrir os olhos e ver —
tem tudo a ver
com tudo.


Caixa mágica de surpresa - Elias José

Um livro
é uma beleza,
é caixa mágica
só de surpresa.

Um livro
parece mudo,
mas nele a gente
descobre tudo.

Um livro
tem asas
longas e leves
que de repente,
levam a gente
longe, longe.

Um livro
é parque de diversões
cheios de sonhos coloridos,
cheio de doces sortidos,
cheio de luzes e balões.

Um livro
é uma floresta
com folhas e flores
e bichos e cores.
è mesmo uma festa,
um baú de feiticeiro,
um navio pirata no mar,
um foguete perdido no ar,
é amigo e companheiro.


Cantiga do vento - Elias José

O vento vem vindo
de longe,
de não sei onde,
vem valsando, vem brincando,
sem vontade de ventar.

Vem vindo devagar,
devagarinho,
mais viração
que vem em vão,
e vai e volta
e volta e vai.

De repente,
o vento vira rock
e vira invencível serpente.
E voa violento
e vai velhaco,
vozeirão varrendo
várzeas, verduras
e violetas.

E vira violinista
vibra na vidraça,
vira copo e vira taça,
e zoa e zoa e zoa
- uma zorra!

O vento, mesmo veloz,
tem tempo pra brincadeira,
tem tempo pra causar vexame.
E enche a casa de sujeira
e ergue o vestido da madame.

Auto-apresentação - Elias José


Sou o poeta João,
Cheio de sonhos e pesadelos
E medos e coragem.
Tenho os olhos abertos, espertos
Para olhar o céu, o mar, a montanha
E todas as cores que a vida tem.
Tantos me tocam as cores da natureza
Como os olhos das garotas.

Tenho os ouvidos atentos
para a música, os ruídos todos
e a sonoridade dos sorrisos
e dos nomes de mulher.

Com os íntimos ou escrevendo
Sou falante, elétrico como um grilo.
Quando enfrento o desconhecido
Sou caracol encolhido em minha casca-casa.

Sou alegre e sou triste,
Sou poeta em projeto.
Acho que o poeta é um cara-de-pau
Que se joga todo sem redes,
Sem máscaras e sem olhos escuros.
É um ser que bota fogo no gelo
E espera um incêndio amazônico.

Para isso vivo e me preparo
Como só tenho quinze anos,
Estou ainda atiçando chispas.
Se uma chamazinha explodir,
Se um verde minúsculo brotar
Do azul do meu poema,
Se o diálogo quebrar a indiferença,
Valeu.