Branca noite de luar - Abgar Renault


Mal o dia se esgueira
e foge entre as árvores do crepúsculo,
insinuam-se os seus finais
entre as dúvidas do nascer da noite.

Pára o rio e sua viagem.
Cessam as águas a sua voz.
Cantos de pássaros interrompem-se
e tombam nos ouvidos da solidão.

Póstumos bois adormecem 
no relvado as suas sombras,
e um gesto final do ocaso 
conduz a ovelha derradeira.

Entre os rebanhos recolhidos 
recolheu-se a tarde
e, enquanto as distâncias 
se estiram brancamente,
lúcido vinho vai a terra embebedando:
o chão é claro sonho e firmamento.

Verte o céu a sua azul antiguidade
sobre as formas, 
as ausências e os corações dos homens,
e a lua vai abrindo em leve solo nas alturas
imaginativas ruas de silêncio, de outrora,
de alva tristeza e amoroso pensamento.


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