A ceifeira solitária - William Wordsworth



Só ela no campo vi: 
solitária de altas serras, 
ceifa e canta para si. 
Não digas nada, que a aterras! 
Sozinha ceifa no mundo 
E canta melancolia. 
Escuta: o vale profundo 
Transborda à de harmonia. 

Nunca um rouxinol cantou 
em sombras da Arábia ardente 
ao que exausto repousou 
mais grata canção dolente; 
ou gorjeio tão extremado 
se escutou na Primavera, 
cortando o Oceano calado 
entre ilhas de Além-Quimera. 

Quem me dirá do que canta? 
Será que o que ela deplora 
é antigo, triste e distante, 
como batalhas de outrora? 
Ou coisas simples são 
do quotidiano viver? 
Essas dores de coração, 
que já foram e hão-de ser? 

Seja o que for que cantara 
é como infindo cantar, 
que a vi cantando na seara, 
no trabalho de ceifar. 
Sem falar, quieto, eu escutava 
e, quando o monte subia, 
no coração transportava 
o canto que não se ouvia. 





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