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Bom Dia, Vida! - Ilka Brunhilde Laurito


Bom dia, vida!

A luz da manhã despiu
seu cobertor de neblina.

Bom dia, vida!

O meu corpo amanheceu
com uma alegria menina!

Bom dia! Bom dia!
Abro a janela ao convite
de um coral de passarinhos.
Um sol cor de riso
me veste da cabeça aos pés.

Respiro o aroma da terra,
cheiro de orvalho e café.
Bom dia, bom dia!

Dia bom de colher flores
e um ramalhete de amores...
Bom dia, vida!
Bom dia!


VIII (Olhos que tacteais este poema) - Ilka Brunhilde Laurito

Olhos que tacteais este poema
como instruídos dedos
sobre as nervuras do espalmar
do texto,
olhos, lúcidos parceiros
da voz alinhavada em letras,
a luz que vos guia o íntimo
passeio,
cegos videntes,
é a que decifra os gestos desta
mão
que fala e canta
imprimindo as rugas do seu
críptico desenho
na lisa pele do papel em branco.

Leitor,
meu quiroamante.

Gorjeios para um bem-te-vi - Ilka Brunhilde Laurito

Mal amanheço
e já me viste?...
— Bem-te-vi!
Saíste do sonho
em que eu jazia
ovo, ave e ninho?...
— Bem-te-vi!
E o que viste
na floresta labiríntica
em que a única árvore vsível
é a de enigmas?...
Cantas para o sol
de graça,
pássaro altruísta?...
Eu,
eu pago o meu direito à voz.
e cobram-me:
a água,
a luz,
o ninho,
o alpiste.
Ai, bem-me-viste:
gorjeios meus
saem caríssimos.
Eu te abençôo,
irmão passarinho,
com as mãos franciscas
no espalmar das minhas:

— Bem-vistos sejam
os que só veem
o que não é visto.

Tu não és o sabiá
que inspirou Golçalves Dias.
Nem estou em outros mares
a entoar canções de exílio.

— Bem-te-vi!
O meu chão não é lá: é aqui.
Mas teu grito me anuncia
essa terra que tu viste
e que eu não vi,
de que sou expatriada.
— Bem-te-vi,
ah, que saudade!
Eu, também,
pássaro ativo,
me cumpro o dia-a-dia
sobre este aplainado tronco
de exaurida seiva
a que o lavor chama de mesa
e onde canto! CANTO!
o que bem ou mal
eu vejo.
Muito mais:
o que não vejo,
bem-te-vi.
Teu olho está no bico?...
O meu, nos dedos:
são eles que percorrerm
as nervuras sensíveis
dos silêncios tangíveis
do meu grito:
— Bem-te-vida!