Mostrando postagens classificadas por relevância para a consulta caixa. Ordenar por data Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens classificadas por relevância para a consulta caixa. Ordenar por data Mostrar todas as postagens

Caixinha mágica - Roseana Murray


Fabrico uma caixa mágica
para guardar o que não cabe
em nenhum lugar:
a minha sombra
em dias de muito sol,
o amarelo que sobra
do girassol,
um suspiro de beija-flor,
invisíveis lágrimas de amor.

Fabrico a caixa com vento,
palavras e desequilíbrio,
e para fechá-la
com tudo o que leva dentro,
basta uma gota de tempo.

O que é que você quer
esconder na minha caixa?


Caixa mágica de surpresa - Elias José

Um livro
é uma beleza,
é caixa mágica
só de surpresa.

Um livro
parece mudo,
mas nele a gente
descobre tudo.

Um livro
tem asas
longas e leves
que de repente,
levam a gente
longe, longe.

Um livro
é parque de diversões
cheios de sonhos coloridos,
cheio de doces sortidos,
cheio de luzes e balões.

Um livro
é uma floresta
com folhas e flores
e bichos e cores.
è mesmo uma festa,
um baú de feiticeiro,
um navio pirata no mar,
um foguete perdido no ar,
é amigo e companheiro.


Sensorial - Adélia Prado

Obturação, é da amarela que eu ponho.
Pimenta e cravo,
mastigo à boca nua e me regalo.
Amor, tem que falar meu bem,
me dar caixa de música de presente,
conhecer vários tons pra uma palavra só.
Espírito, se for de Deus, eu adoro,
se for de homem, eu testo
com meu seis instrumentos.
Fico gostando ou perdoo.
Procuro sol, porque sou bicho de corpo.
Sombra terei depois, a mais fria.



Iniciativas - Aníbal Machado



Faça o que lhe digo.
Solte primeiro uma borboleta.
Se não amanhecer depressa,
solte outras de cores diferentes.
De vez em quando, faça partir um barco.
Veja aonde vai.
Se for difícil,
suprima o mar e lance uma planície.
Mande um esboço de rochedo,
o resto de uma floresta.

Atire um planisfério. Um zodíaco.
Uma fachada de igreja.
E os livros fundamentais.
Sirva-se do vento, se achar difícil.

Mande uma manhã de sol, na íntegra.
Faça subir a caixa de música,
com o barulho dos canaviais
e o apito da locomotiva.
Veja se consegue o mapa dos caminhos.



Obsessão do mar oceano - Mário Quintana


Vou andando feliz pelas ruas sem nome...
Que vento bom sopra do Mar Oceano!
Meu amor eu nem sei como se chama,
Nem sei se é muito longe o Mar Oceano...
Mas há vasos cobertos de conchinhas
Sobre as mesas... e moças na janelas
Com brincos e pulseiras de coral...
Búzios calçando portas... caravelas
Sonhando imóveis sobre velhos pianos...
Nisto,
Na vitrina do bric o teu sorriso, Antínous,
E eu me lembrei do pobre imperador Adriano,
De su'alma perdida e vaga na neblina...
Mas como sopra o vento sobre o Mar Oceano!
Se eu morresse amanhã, só deixaria, só,
Uma caixa de música
Uma bússola
Um mapa figurado
Uns poemas cheios de beleza única
De estarem inconclusos...
Mas como sopra o vento nestas ruas de outono!
E eu nem sei, eu nem sei como te chamas...
Mas nos encontramos sobre o Mar Oceano,
Quando eu também já não tiver mais nome.

No mar sem hipocampos - Marina Colasanti


Assim que anoiteceu, saiu para pescar.
Peixes não, estrelas.
Afastou-se da casa, atravessou um campo até o seu limite.
Na linha do horizonte, sentado à beira do céu,
abriu a caixa das frases poéticas que havia trazido como iscas.
Escolheu a mais sonora, prendeu-a firmemente na rebarba luzidia.
Depois, pondo-se de cabeça para baixo, lançou a linha no imenso azul,
deixando desenrolar todo o molinete.
E, paciente, enquanto a Lua avançava sem mover ondas,
começou a longa espera de que uma estrela
viesse morder o seu anzol.