Poesia, a minha velha amiga...
eu entrego-lhe tudo
a que os outros não dão importância nenhuma...
a saber:
o silêncio dos velhos corredores
uma esquina
uma lua
(porque há muitas, muitas luas...)
o primeiro olhar daquela primeira namorada
que ainda ilumina, ó alma,
como uma tênue luz de lamparina,
a tua câmara de horrores.
E os grilos?
Sim, os grilos...Entrego-lhe grilos aos milhões, um lápis verde, um retrato
amarelecido, um velho ovo de costura. Os teus pecados, as
reivindicações, as explicações – menos
o dar de ombros e os risos contidos
mas todas as lágrimas
que o orgulho estancou na fonte
as explosões de cólera
o ranger dos dentes
as alegrias agudas até o grito
a dança dos ossos
Pois bem
às vezes
de tudo quanto lhe entrego,
a Poesia faz uma coisa
que parece nada tem a ver com os ingredientes
mas que tem por isso mesmo
um sabor total: ETERNAMENTE
ESSE GOSTO DE NUNCA E DE SEMPRE.
Nenhum comentário:
Postar um comentário