As espumas desmanchadas
sobem-me pela janela,
correndo em jogos selvagens
de corça e estrela.
Pastam nuvens no ar cinzento:
bois aéreos, calmos, tristes,
que lavram esquecimento.
Velhos telhados limosos
cobrem palavras, armários,
enfermidades, heroísmos. . .
Quem passa é como um funâmbulo,
equilibrado na lama,
metendo os pés por abismos. . .
Dia tão sem claridade!
só se conhece que existes
pelo pulso dos relógios. . .
Se um morto agora chegasse
àquela porta, e batesse,
com um guarda-chuva escorrendo,
e, com limo pela face,
ali ficasse batendo
-ali ficasse batendo
àquela porta esquecida
sua mão de eternidade. . .
Tão frenético anda o mar
que não se ouviria o morto
bater à porta e chamar. . .
E o pobre ali ficaria
como debaixo da terra,
exposto à surdez do dia.
Pastam nuvens no ar cinzento.
Bois aéreos que trabalham
no arado do esquecimento.
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