1
Canção obscura
dos olhos fundos
na terra nítida
vai navegando
soluço inquieto
mágoa secreta
nos olhos fundos
cores e sombras
das madrugadas
as bicicletas
os trens passando
bondes e nuvens
quotidianos
que companhia
no desespero!
Homem sozinho
que estás presente
nas nossas noites
todas iguais,
esquerdo e simples
como uma foice
que teu destino
nos justifique
nos acompanhe
nos abençoe.
2
Paciência deslumbrada
caindo gota a gota,
noite e dia polida,
muda-se em sal da infância
que tuas vacas lambiam
e nos devolves nítido
em chuva dulciamara
mas fecundando a terra
das roças do amanhã.
Ó menino, ó vaqueiro,
que tens nas magras mãos
o segredo do tempo
sempre ressuscitado,
apascenta nas folhas
de papel de jornal
teu rebanho de seres
no campo da montanha
e derrama na estrada
como leite na cuia
essa carícia – o vento,
esse poder – a vida,
pedra, ferro, ilusão
bicicleta rodando
contra a noite esquecida
para acordar os dias
e soletrar com os homens
a nova madrugada,
estrela da manhã,
cantiga do horizonte,
rasgada para o céu.
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