Oficina irritada - Carlos Drummond de Andrade
Eu quero compor um soneto duro
como poeta algum ousara escrever.
Eu quero pintar um soneto escuro,
seco, abafado, difícil de ler.
Quero que meu soneto, no futuro,
não desperte em ninguém nenhum prazer.
E que, no seu maligno ar imaturo,
ao mesmo tempo saiba ser, não ser.
Esse meu verbo antipático e impuro
há de pungir, há de fazer sofrer,
tendão de Vênus sob o pedicuro.
Ninguém o lembrará: tiro no muro,
cão mijando no caos, enquanto Arcturo,
claro enigma, se deixa surpreender.
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Imensa pena por não poder ficar assim tanto, vendo, ouvindo lendo entre tantos jardins. Até Tagore eu encontrei! Meus arquivos pouco a pouco abrem-se do velho armário empoeirado lá do sótão! Abração, Nádia!
ResponderExcluirQue lindo! Venha quando quiser.
ResponderExcluirOs poemas estão aqui esperando você.
Ótima noite e um carinhoso abraço.