Elegia - Orides Fontela


Mas para que serve o pássaro?

Nós o contemplamos inerte.
Nós o tocamos no mágico fulgor das penas.
De que serve o pássaro se
desnaturado o possuímos?
O que era voo e eis
que é concreção letal e cor
paralisada, íris silente, nítido,
o que era infinito e eis
que é peso e forma, verbo fixado, lúdico
o que era pássaro e é
o objeto: jogo
De uma inocência que
o contempla e revive
- criança que tateia
no pássaro um esquema
de distâncias -
mas para que serve o pássaro?
O pássaro não serve; arrítmicas
brandas asas repousam.



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