Manhã de Chuva na Infância - Cecília Meireles

Ao longo do muro, as campânulas escorrem,
gelatinosas,
ainda coradas,
ainda cheirosas,
e já mortas.

Eu sou a menina que vai para a escola
com seu casaquinho vermelho,
e os seus livros forrados de papel azul.

A chuva continua a bater nas flores,
a avivar as cores dos muros,
a gorgolejar nas calhas,
a correr para os negros bueiros.

Eu sou a menina que vai para a escola
feliz, com os cabelos molhados
e o rosto frio.

A chuva é uma alegria, com suas agulhas de vidro
voando por todos os lados.
A chuva cheira a jasmim e a flor "boa-noite!"

Eu sou a menina que de repente fica triste,
porque ao longo do muro as campânulas escorrem,
gelatinosas,
cor de coral, cor de marfim,
perfumadas ainda,
e já mortas.

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