O barco era belo
rasgaram-lhe as velas,
intrusos cuspiram
no seu tombadilho
e o homem sem barco
seguiu pela estrada
com ondas redondas
rolando nos pés.
Gastou os sapatos
de tanto horizonte,
quis beijar a vida
ninguém o deixou,
quis comer, quis beber,
disseram que não,
sentiu-se doente
mas não tinha cama.
Soprou temporais
no sangue, nas veias,
e todo o seu corpo
foi fúria e foi quilha,
cercaram-no logo
com altos rochedos
e o homem sem barco
teve que evitá-los.
Na estrada sem nada
dos tristes humanos
com pernas-farrapos
o homem lá vai,
sem eira nem beira
de bolsos vazios
com os olhos ocos
marejados de mar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário