Longe nas eras
corre um menino.
Voam as nuvens,
cantam os pássaros
e as borboletas
sugam o silêncio
na seda fina
de aéreas conchas.
Corre um menino
longe no mundo,
longe no tempo.
Voam as vozes
dos homens, longe.
Um tênue vento
balança as ervas,
oprime as pétalas,
leva os rumores
graves dos carros.
O pólen voa,
fogem abelhas.
Corre um menino
por entre os séculos.
Corre um menino
solto, sozinho,
na madrugada
de um país claro.
Assim te vejo
até agora,
náufrago límpido
e solitário.
Noutros lugares
constroem barcos
para teus olhos
com arabescos
de algas e anêmonas.
Noutros se formam
secretos rostos,
estranhos lábios,
para te verem
em noites de ouro,
para chamarem
tua presença
tão provisória,
para chorarem
sobre a saudade
dos teus retratos.
E estão dormindo
a onda mortífera
e a estrela acerba.
E estão nascendo
os dedos pálidos,
com ramos verdes
de misereres
para o teu dia
sobre os oceanos
desbaratado.
Longe do mundo
voas disperso,
alheio a tudo
que os anjos erguem
sobre o teu passo.
Sobre o teu passo,
o louro campo,
movido apenas
por brando vento,
ervas floridas
e sem memória
outra vez cerra.
(Ó longitudes,
ó logaritmos
entre o celeste
e o humano mapa!)
No chão da infância
o fim do orvalho
sepulta lágrimas
que vão pisando
teus pés, ligeiros,
cortando o tempo,
dançando pressas
para a chegada.
Longe, na vida,
longe, entre as almas.
Pequenas conchas
estão nascendo
para escutarem
tua passagem.
Longe, nos verdes
limos das águas.
Que outros ouvidos
irão sabendo
de tua sorte?
Os céus, tão altos...
Tão fundo, as algas!
Teu nome apenas
no rol dos mortos,
cinza das cinzas
na mão do vento
que se desata...
Voam as letras,
voam as datas,
voa a memória
de tristes asas...
Ó alegria
dos campos claros!
Vieste, correste
- não foste nada!
E as cotovias
estão cantando,
e ao longe saltam
ruivos cavalos.
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