Éramos feitos de um leite casto,
repleto de suspiros.
Feitos de canções docemente entoadas
sob vagas iluminações.
De brinquedos poéticos,sob estrelas,
em varandas e laranjais.
Tínhamos olhos cheios de flores e pássaros,
a boca de preces, a testa de beijos.
Pisávamos no mundo com leveza de anjo,
e iríamos, certamente, para além do horizonte.
Escolhíamos as palavras de dizer,com grande enlevo,
porque falar já era ser.
Amávamos na viagem a estrela que ia na proa
tanto como a espuma que nos fugia.
Com tantos ontens e amanhãs, não combatíamos pelo hoje.
Ele ia sendo por si, harmonioso, entre uns e outros.
E éramos tudo, divinamente, com gracioso esquecimento.
E nem tomávamos, porque éramos de dar.
Assim morremos, dos contrastes que matam os homens.
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