Éramos feitos de um leite casto,
repleto de suspiros.
Feitos de canções docemente entoadas
sob vagas iluminações.
De brinquedos poéticos, sob estrelas,
em varandas e laranjais.
Tínhamos olhos cheios de flores e pássaros,
a boca de preces, a testa de beijos.
Pisávamos no mundo com leveza de anjo,
e iríamos, certamente, para além do horizonte.
Escolhíamos as palavras de dizer, com grande enlevo,
porque falar já era ser.
Amávamos na viagem a estrela que ia na proa
tanto como a espuma que nos fugia.
Com tantos ontens e amanhãs, não combatíamos pelo hoje.
Ele ia sendo por si, harmonioso, entre uns e outros.
E éramos tudo, divinamente, com gracioso esquecimento.
E nem tomávamos, porque éramos de dar.
Assim morremos, dos contrastes que matam os homens.
Este poema de Cecília Meireles me intriga,chega a ser ressonante... Eu já li várias vezes e me encontrei nele na divisão de dois mundos :O de ontem e o de hoje,embora caminhem paralelamente.
ResponderExcluirUma linda semana prá você Nádia.