Na minha infância quando chovia
batia sobre o telhado
uma pancada macia.
A noite vinha de fora
e dentro de casa caía.
Meu olho esquerdo dormia
enquanto o outro velava,
havia portas rangendo,
lá fora o vento miava.
No fundo da noite a casa
parece que navegava.
Meu coração passeava
por uma sala sombria
por este lado se entrava
por este outro se olhava
e por nenhum se saía.
Na minha infância quando chovia
batia sobre o meu peito
uma suave agonia.
A noite vinha de longe
e dentro da gente caía.
Meu pai que sempre saía
numa viagem calada
havia vozes chamando
na boca da madrugada.
No fundo da noite a casa
parece que despertava
assombração que passava
no sopro da ventania,
por este lado se entrava
por este outro se olhava
e por nenhum se saía.
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