Havia na planície um passarinho,
Um pé de milho e uma mulher sentada.
E era só. Nenhum deles tinha nada
com o homem deitado no caminho.
O vento veio e pôs em desalinho
a cabeleira da mulher sentada
e despertou o homem lá na estrada
e fez canto nascer no passarinho.
O homem levantou-se e veio, olhando
a cabeleira da mulher voando
na calma da planície desolada.
Mas logo regressou ao seu caminho
deixando atrás um quieto passarinho,
um pé de milho e uma mulher sentada.
Tranquilo retrato campestre.
ResponderExcluirbjs
cvb
Grande poeta meu, poesia amada, foste tão cedo em vida e para ti também fiz um soneto, que tua memória sempre em mim está presente. Tua poesia é inesquecível, assim como o grande poeta que eternamente serás. De tantos sonetos perfeitos que fizeste, Retrato Campestre ainda me toca como um raio. Saudades do irmão poeta.
ResponderExcluirSoneto para Carlos Pena Filho (Marsel Botelho)
Numa manhã cinza, de estranhas nuvens,
Ponho-me a pensar-te versos porque vazio.
De palavras poucas e de muitos desdéns,
Pinço estes versos e no mais me contrario.
Um vento louco me lança em teu caminho
E, aos gritos, acorda toda a vizinhança.
A poesia que te arrancou do pergaminho,
Poeta, hoje me açoitou e me deu ânsia!
Quis fugir e não pensar em ti,
Ver tanto azul quanto tu viste,
Fazer do silêncio o meu altar.
Perdoes, não pude silenciar.
Assim, que sou menos triste
Por tanto mais te sentir.
Obrigada, Marsel!
ResponderExcluirUm abraço,
Nádia
Forte abraço, Nádia Dantas, o Soneto que envio é para você:
ResponderExcluirSoneto do meu fardo
Poemas são como sementes que planto no jardim
Dos outros. Podem crescer e florir o chão que não é meu.
Nada colho para mim: apenas me esvazio ao fim
De cada um deles: estranhas criaturas empalhadas de museu.
Ora náufragos argonautas navegando barcos de marfim.
Ora um sonho antigo que em mim nunca envelheceu.
Se há música neles intraduzível, saiba que podemos ouvir
Canções de outro mundo, como pela fé chega-se a Deus.
Como meu rebanho é de palavras, certos ventos ingratos
Para longe tangem suas pétalas ainda não desabrochadas,
Deixando minha vida desesperada a crescer como capim.
Mas a cada verso que me trazem esses invisíveis arautos,
Vai pesando mais o fardo, como que por paredes rachadas
Milhões de fantasmas vigiassem meu sono para eu não dormir!
Obrigada, Marsel.
ResponderExcluirFeliz pelo presente!Adorei!
Você escreve muito bem.
Abraço