A pessoa, o lugar, o objeto
estão expostos e escondidos
ao mesmo tempo sob a luz,
e dois olhos não são bastante
para captar o que se oculta
no rápido florir de um gesto.
É preciso que a lente mágica
enriqueça a visão humana
e do real de cada coisa,
o mais seco real extraia
para que penetremos fundo
no puro enigma das imagens.
Fotografia - é o codinome
da mais aguda percepção
que a nós mesmos nos vai mostrando
e da evanescência de tudo
edifica uma permanência cristal
do tempo no papel.
Das lutas de rua no Rio
em 68, que nos resta?
Mais positivo, mais queimante
do que as fotos acusadoras,
tão vivas hoje como então
a lembrar como exorcizar?
Marcas de enchente e do despejo.
O cadáver insepultável.
O colchão atirado ao vento.
A lodosa, podre favela.
O mendigo de Nova York.
A moça em flor no Jóquei Clube.
Garrincha e Nureyev, dança
de dois destinos, mães-de-santo
na praia-templo de
Ipanema,
a dama estranha de
Ouro Preto,
a dor da América
Latina,
mitos não são, pois são
fotos.
Fotografia: arma de amor,
de justiça e
conhecimento,
pelas sete partes do
mundo
a viajar, a
surpreender
a tormentosa vida do
homem
e a esperança a
brotar das cinzas.
A alma fotografou e as imagens permanecerão para sempre no álbum triste das lembranças.
ResponderExcluirDrumond conseguiu extrair beleza das cinzas.
Bjs.