Purificação - Carlos Nejar



Coarar as emoções,
junto às camisas e lenços,
secando tudo isto,
para os poder usar
no serviço.

Coarar as emoções
febris e as elevadas
na grama ou laje de viver,
no quintal,
lavando estas peças
do bem e do mal,
amontoando-as
na bacia, ao fundo.

Talvez o sol.
Antes que tal suceda,
que as paixões sequem
e o medo e os pressentimentos
vindos, amiúde,
no tecido que fomos e somos,
as Parcas entrarão
para dentro do inverno
e nós esperaremos,
a depender do tempo,
do barro, dos elementos,
a depender de fios, atavios,
céu, inferno,
a depender da sorte
que nos recolhe
ao balde.

A alma! Que ferro de engomar
a desenrugue dos erros
e ela se limpe, ao menos!

Que o ferro alise
suas ênfases, tropeços.
E trace as imagens
nas emoções mais velhas,
nas que foram pisadas.
Esquecê-las!

O ferro de passar
no mundo inapreendido.
Depois,
coser botões caídos
ou quem sabe,
coser os símbolos
e a jubilação do dia.

Que a alma, ao menos,
saia sem vincos!



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