Vai, vai, vai começar a
brincadeira
Tem charanga tocando a noite
inteira
Vem, vem, vem ver o circo de
verdade
Tem, tem, tem picadeiro e
qualidade
Corre, corre minha gente
Que é preciso ser esperto
Quem quiser que vá na frente,
Vê melhor quem vê de perto
Mais no meio da folia
Noite alta céu aberto
Sopra o vento que protesta
Cai no teto rompe a lona
Para que a lua de carona
Também possa ver a festa.
Bem me lembro trapezista
Que mortal era seu salto
Balançando lá no alto
Parecia de brinquedo
Mas fazia tanto medo
Que o Zezinho do trombone
De renome tão sagrado
Esquecia o próprio nome
E abraçava o microfone
Para tocar o seu dobrado
Faço versos pro palhaço
Que na vida já foi tudo
Foi soldado, carpinteiro
Seresteiro, vagabundo
Sem juiz e sem juízo
Fez feliz a todo mundo
Mas no fundo não sabia
Que em seu rosto coloria
Todo o encanto de um sorriso
Que o seu corpo não sorria
De chicote cara feia
Domador fica mais forte
Meia volta, volta e meia
Meia vida, meia morte,
Terminado o seu batendo
De repente a fera some
Domador que era valente
Noutra esfera se consome
Seu amor indiferente
Sua vida e sua fome.
Fala o fole da sanfona
Fala a flauta pequenina
Que o melhor vai vir agora
Que desponta a bailarina
Que seu corpo é de senhora
E que seu rosto é de menina
Quem chorava já não chora
E quem cantava desafina
Porque a dança só termina
Quando a noite for embora
Vai, vai, vai terminar a
brincadeira
Que a charanga tocou a noite
inteira
Morre o circo, renasce na
lembrança
Foi-se embora e eu ainda era
criança
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